O presente artigo integra uma pesquisa a nível de Mestrado que procura trazer elementos para a discussão sobre correntes de pensamento que alimentam discursos sobre gênero, nomeados ideologia de gênero, sejam conservadores ou liberais. Objetiva a análise de i) discursos constitutivos de práticas de assédio sexual, no exercício daquilo que algumas subjetividades institucionalizadas chamam de autonomia e ii) discursos que fomentam e formulam o uso adestrado do termo ideologia de gênero. Inspirado no arcabouço teórico foucaultiano, que define a governamentalidade vigente e confere propriedade às análises discursivas, o artigo traz como problema de pesquisa: como se constitui a subjetividade do brasileiro, homem ou mulher, que reivindica o poder da família normativa e não compreende a própria contradição ao permitir, incentivar ou produzir assédio? Buscou-se as condições de possibilidade que fazem emergir discursos conservadores e ao mesmo tempo geram um ambiente próprio para as discussões sobre assédio sexual. O artigo aponta para o termo ideologia de gênero de origem católica instituída na sociedade neoliberal. Tem como corpus analítico um comparativo entre questões filosóficas de obras midiáticas da atualidade, utilizadas para sensibilização, e as normativas recentes das legislações de ensino voltadas para os temas de gênero e sexualidade, com destaque para o Escola sem Partido e sua proposição quanto a ideologia de gênero. Foi realizado um investimento para procurar compreender, na historicidade atual, pontos de apoio que permitiram a constituição de subjetividades engendradas em comportamentos de assédio sexual e um complexo temor pela educação em gênero e sexualidade ministrada nas escolas brasileiras. O trabalho encaminha-se a concluir que o mecanismo governamental passível de sensibilizar contra a prática de assédio sexual não é a supressão da educação sexual, mas sim uma efetiva educação para sexualidade e gênero.