Outubro Rosa e mamografias: quando a comunicação em saúde erra o alvo

Abstract

O câncer de mama é o tipo de câncer mais diagnosticado e a principal causa de morte por câncer na população feminina. As mamografias de rastreamento e o tratamento precoce são geralmente os meios mais utilizados na tentativa de reduzir essa mortalidade e são incentivados no Outubro Rosa, uma campanha de divulgação anual. Contudo, estudos recentes têm relacionado o aumento do rastreamento com uma maior morbimortalidade em razão do sobrediagnóstico e do sobretratamento. No presente estudo, avaliaram-se as buscas relativas ao câncer de mama e à mamografia no Google Trends, entre 2004 e 2019, em termos da tendência, da sazonalidade e da distribuição nas Unidades Federativas brasileiras. Avaliou-se também a correlação entre a quantidade de buscas no Google Trends e a quantidade de exames de rastreamento mamográfico. As duas séries tiveram um padrão sazonal com picos em outubro, e houve excesso de exames realizados fora da faixa etária recomendada. O Outubro Rosa transmitiu informações de saúde, as popularizou e induziu comportamentos relativos a informações transmitidas; três aspectos desejáveis na comunicação e na educação em saúde. Porém, gerou um excesso de mamografias de rastreamento e não incentivou a autonomia e o consentimento livre e esclarecido. O Outubro Rosa mostrou o potencial da comunicação em saúde para massas e a necessidade de que as mensagens sejam alinhadas com as melhores evidências científicas.

Does Pink October really impact breast cancer screening?

“…Of the number of the total tests classified as screening, 35% of the tests were performed in age groups other than those recommended by INCA, it is believed that this is due to a divergent recommendation in Brazil by the Brazilian Society of Mastology (SBM), Association of Gynecology Federations and Obstetrics (FEBRASGO), and from the Brazilian College of Radiology (CBR), which recommend screening between 40 and 75 years. Other studies have already demonstrated this over-screening, explained by the important role of these societies in promoting the Pink October campaign, while INCA, lately, takes little part on it [ [10] , [11] , [12] , [13] ].…”

Perfil Sociodemográfico Da Mortalidade Por Câncer De Mama No Brasil De 2016 a 2020

“…No entanto, muitas mulheres possuem dificuldades de acesso e utilização SAÚDE COLETIVA E EPIDEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS 166 desse tipo de serviço, pois o acesso aos serviços de saúde em alguns locais do Brasil ainda é restrito, sendo, em sua maior parte, mulheres com perfil de risco. No serviço público a mamografia é realizada somente na faixa etária considerada "de risco", entre 50 e 59 anos (BRASIL, 2018;BAQUERO et al, 2021). Nesse prisma, o objetivo deste estudo foi analisar a tendência da mortalidade por câncer de mama (CAM) em mulheres no Brasil, realizando comparativos entre os dados verificados durante o período de 2016 a 2020, centrado no perfil de risco das mulheres.…”

Iniquidades no acesso aos serviços de saúde para o diagnóstico e tratamento do Câncer de mama

“…Por outro lado, o estímulo à realização em massa da mamografia pode, além de sobrecarregar o sistema de saúde que já demonstra oferta irregular entre as macrorregiões do país; levar ao sobrediagnóstico e, consequentemente, ao sobre tratamento (33,34). Este panorama abre lacunas para questionamentos quanto à efetividade das ações de rastreamento na redução da mortalidade pela doença.…”

“…Este resultado reafirma que embora bem-intencionada, campanhas como o outubro Rosa, quando não geridas ou divulgadas do modo correto, podem, em alguns casos, representar desserviço e uso inadequado de recursos já escassos (33,34).…”