Concepções em disputa no uso da suplementação e/ou fortificação de micronutrientes na alimentação escolar para prevenção da anemia

Abstract

Resumo: A anemia por deficiência de ferro afeta, mundialmente, diferentes populações e, no Brasil, é uma das principais carências nutricionais na infância. Diferentes estratégias são propostas por organismos internacionais e pelo Ministério da Saúde para sua prevenção. O objetivo do estudo foi analisar as ideias em disputa, presentes em documentos oficiais e narrativas dos profissionais da saúde e educação acerca do uso da suplementação e/ou fortificação nutricional como medida de prevenção da anemia no âmbito escolar. Baseou-se na análise de documentos governamentais e entrevistas semiestruturadas com profissionais atuantes em municípios que implementaram a estratégia de fortificação da alimentação escolar (NutriSUS) no Estado do Rio de Janeiro. As ideias disseminadas nos documentos governamentais ressaltam a eficiência da suplementação e da fortificação caseira para prevenção de anemia, com base em pesquisas científicas e se adequa aos objetivos das políticas públicas neles formalizados. As ideias presentes nas narrativas dos profissionais são, por vezes, críticas à necessidade desse tipo de intervenção e, por outras, favoráveis, indicando as controvérsias presentes no próprio processo de operacionalização local das políticas federais. Observaram-se tensões em torno dos conceitos de promoção, prevenção e tratamento por meio do NutriSUS, da dosagem e da forma de administração. As críticas à suplementação ressaltam as práticas alimentares saudáveis como estratégia preferencial. A medicalização em detrimento de ações de promoção da saúde pode tencionar a perspectiva pedagógica no contexto escolar e produzir ideias contraditórias sobre as melhores estratégias de promoção de alimentação saudável.

Strategic program for the fortification of infant foods with micronutrient powders: the voice of managers

“…É destacada a importância da construção compartilhada dessas práticas, conforme orientado pelo caderno gestor do Programa Saúde na Escola (6) . Apesar da participação menos evidente dos profissionais da educação, há esforços visíveis para fortalecer a colaboração entre saúde e educação, em linha com o manual do NutriSUS, que preconiza uma atuação conjunta entre equipes de Atenção Primária e profissionais da educação (5) .…”

“…Neste estudo, os gestores participantes referiram a designação de algum profissional fixo da equipe para ser o responsável pela inclusão do conteúdo do sachê na refeição da criança. Em contrapartida, profissionais entrevistados em outras experiências (5) relata-ram tempo insuficiente para realizar mais de uma tarefa dentro do cronograma estabelecido. Além disso, o espaço limitado no local de confecção e distribuição da alimentação foi um obstáculo, principalmente quando essa função era realizada por outro funcionário externo à cozinha, o que ocorreu em 50% dos casos.…”

“…Por ser uma intervenção de saúde pública de natureza universal e preventiva, realizada em estabelecimentos de educação infantil como creches, os pais ou responsáveis desempenham um papel primordial na participação, pois o composto alimentício só pode ser fornecido à criança mediante autorização do responsável legal, acompanhada da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o uso do sachê (5) .…”

“…Essa abordagem envolve a distribuição de sachês contendo suplementos de 15 micronutrientes, como vitaminas, zinco, ácido fólico e ferro, destinados às crianças matriculadas em creches vinculadas ao Programa Saúde na Escola que optam por participar. A finalidade dessa estratégia é mitigar as deficiências nutricionais associadas à carência desses micronutrientes, demonstrando o compromisso conjunto na promoção da saúde infantil (5) .…”

“…É fundamental enfatizar que o NutriSUS baseia suas diretrizes na promoção da saúde e na prevenção de doenças, buscando aprimorar o desenvolvimento infantil, estimulando a adoção de hábitos alimentares saudáveis, e enfrentando potenciais situações de vulnerabilidade que possam impactar o progresso escolar (5) .…”