O juízo da fama: moralidades e emoções nas narrativas testemunhais de conversão no mundo artístico evangélico

Abstract

Resumo: O objetivo deste artigo é investigar como se efetivam as relações das religiosidades evangélicas com os meios de comunicação na contemporaneidade com base em testemunhos de conversão de pessoas consideradas famosas e componentes do mundo artístico no Brasil. Tendo como apoio teórico-metodológico a antropologia das emoções e das moralidades, busca-se discorrer ao longo do texto acerca dos estilos discursivos dessas narrativas testemunhais. Os juízos da fama, isto é, as avaliações e os julgamentos morais das experiências vivenciadas no show business brasileiro pelas artistas evangélicas aqui estudadas versam sobre o bem e o mal, o renome e o esquecimento, as alegrias e os sofrimentos, interpretações que acompanham os movimentos típicos de carreiras instáveis construídas no contexto da indústria cultural.

“Jesus Cristo é a maior onda!”: juventudes evangélicas e as vicissitudes da fé

“…Em outros trabalhos, demonstrei o papel de "levar a palavra" e de ser "instrumento de Deus" desempenhado por artistas adultos convertidos ao pentecostalismo (BISPO, 2021a;. Eles costumam ser mediadores com a esfera secular a fim de "pescar almas" para as igrejas (CUNHA, 2007, p. 145), buscando ampliar o número de fiéis ao circularem pelos veículos de comunicação ditos laicos e servirem como exemplos bem-sucedidos de processos de conversão.…”

“…Como bem nos lembra Foucault (2014, p. 37), um bom discurso pode ser compreendido como um eficiente "ritual da palavra", por definir a qualificação que devem possuir aqueles que o enuncia e o modo dele ser enunciado. Os gestos, os comportamentos, as circunstâncias, enfim, todo um conjunto de signos deve acompanhar o ato discursivo a fim de garantir a eficácia das palavras emitidas (DUARTE e DULLO, 2016;BISPO 2021a;BISPO, 2018). Sendo assim, observar o material midiático de artistas religiosos adolescentes é constatar a formulação de uma linguagem que se pretende jovial, no sentido de aplicar e arregimentar elementos comunicativos que são socialmente compartilhados como símbolos dessa fase da vida, além da adoção de uma performance e um conteúdo temático que intenta ser a todo instante de e para jovens.…”

“…Além de alertar sobre sexo e drogas, os artistas elaboram discursos sobre emoções que circunscrevem situações de sofrimento a fim de refletirem sobre os chamados dilemas subjetivos das juventudes. Já demonstrei em artigos anteriores que o testemunho é um gênero narrativo cuja convenção máxima parece ser desenvolver subjetividades através da elaboração de dramas do sofrer (BISPO, 2021a;2019). O relacionamento com os pais e irmãos é fonte de constante angústia, estimulando sensações de "rejeição" e de deslocamentos no seio familiar.…”

“…Venho desenvolvendo nos últimos anos pesquisas sobre a conversão de artistas às igrejas evangélicas (BISPO, 2021a;2019;. O presente trabalho esmiúça os dados referentes aos jovens famosos que foram foco da pesquisa, devido às particularidades identificadas no levantamento desse material justamente por conta da questão geracional.…”

¿Qué significa clasificar? Variaciones carcelarias, terapéuticas y culturales del pentecostalismo urbano

“…No referimos a: (a) las investigaciones en torno a la religiosidad popular y sus procesos instituyentes de sacralización (PARKER, 1993;AMEIGEIRAS, 2008;DE LA TORRE, 2012;MARTIN, 2007); (b) los trabajos que se interrogan sobre las prácticas y representaciones de las personas "sin afiliación religiosa", es decir, aquellos individuos que toman distancia de los marcos institucionales, reforzando muchas veces la hipótesis de una espiritualidad inclasificable (NOVAES, 2004;CAMURÇA, 2017;RABBIA, 2017;ESQUIVEL, 2021) y (c) los análisis relativos a los procesos de conversión, desconversión, pasaje o movilidad religiosa, especialmente en grupos evangélicos pentecostales en donde el cambio y las circulaciones se expresan en una semiótica de los signos verbales, físicos, estéticos y emocionales de lo sagrado. (BIRMAN, 1996;MARFA, 2000;TÉCIO PACHECO et al, 2007;GARMA NAVARRO, 2018;BISPO, 2021).…”