ResumoNo texto apresentam-se os resultados de uma pesquisa em que se teve o objetivo de compreender o fenômeno dos conflitos nas relações sociais de trabalho, em organizações públicas, no contexto da Nova Gestão Pública, sob as lentes da Psicodinâmica do Trabalho.A revisão de literatura aborda: as tipologias da administração pública: administração pública patrimonialista, administração pública burocrática, nova gestão pública; a lente teórica da Psicodinâmica do Trabalho e suas dimensões constituintes; e os conflitos nas relações de trabalho. Metodologicamente, realizou-se uma pesquisa qualitativa, com uso de entrevistas narrativas com 14 servidores da administração direta e da administração indireta de um estado do Nordeste brasileiro. Utilizou-se a técnica da análise dos núcleos de sentido para a compreensão das narrativas. Após a transcrição e categorização das entrevistas, os seguintes temas foram identificados: condições de trabalho, organização do trabalho, relações sociais de trabalho, medo, carga psíquica, doença/saúde, sofrimento/prazer e estratégias de defesa.Concluiu-se que os conflitos originários da relação sujeito-trabalho e das relações sociais, profissionais e afetivas que se desenrolam nos contextos de trabalho sob a Nova Gestão Pública compõem uma fonte de ansiedade, tensão, inquietação, medo e sofrimento, ao mesmo tempo que tal contexto e relações são palco da emergência de dimensões associadas ao prazer, como valorização, satisfação e reconhecimento, confirmando que os constructos prazer e sofrimento operam no real do trabalho de maneira inter-relacionada. Na administração pública brasileira, há pelo menos três fases já sistematizadas na literatura numa perspectiva histórica: a administração patrimonialista, a administração burocrática, e a nova gestão pública (NGP), também conhecida como administração pública gerencial, reforma gerencial ou, simplesmente, gerencialismo.Há, ainda, uma fase mais atual denominada novo serviço público, que busca reunir práticas gerenciais dos setores público e privado (BRESSER-PEREIRA, 2001; SEC-CHI, 2009;ANDION, 2012;CARDOSO, 2016).Tais modelos de gestão pública representam cada qual um determinado período histórico. No entanto, tem sido debatido que não houve uma substituição plena dos modelos anteriores pelos novos, de modo que características de todos os modelos podem ser encontradas na administração pública atual (PAES DE PAULA, 2005;SECCHI, 2009). Neste trabalho parte-se do pressuposto de que no cotidiano do trabalho do serviço público há uma tendência a não se observar o modelo puro desses tipos de administração, podendo-se inferir que, na NGP, há uma mistura de elementos dos modelos patrimonialista e burocrático.Um aspecto da organização do trabalho público que se destaca é o fenômeno dos conflitos nas relações sociais de trabalho que emergem no cotidiano de trabalho, especialmente em tempos de mudanças nos modelos de gestão, como na contemporaneidade, especialmente em contextos nos quais se percebem resquícios dos antigos modelos.Este trabalho não abord...