Muitas lutas socioambientais ao redor do mundo abraçam esforços em prol da proteção contra o desaparecimento de outros “mundos”. Ao lado da diversidade biológica, encontram-se ameaçadas as línguas, as tradições, os conhecimentos humanos, assim como as relações íntimas entre povos e suas terras, por várias formas de colonização, expansão do capital, ou simplesmente a globalização de estilos de viver. Estudiosos das relações internacionais começaram a despertar para o entendimento de que o mundo é composto por muitos mundos, e que essa diversidade se encontra ameaçada por fortes pressões. Este esforço tem sido essencial para a compreensão da luta em prol da manutenção desses muitos mundos em um único Planeta Terra. No entanto, esses estudos ainda não penetraram por completo os estudos de Política Ambiental Global (PAG). Este artigo expande essa sensibilidade e esforço acadêmico à PAG, ao dialogar com formas indígenas de conhecer. Defende-se que as lutas indígenas são lutas pela sobrevivência de muitos mundos em um único planeta e que há o que se aprender disso. Não se busca generalizar o conhecimento indígena, mas sim lançar uma chamada ao engajamento. Por meio da Escuta e da Fala Criativas, uma metodologia da abordagem dos muitos mundos, este artigo põe em foco o mundo-floresta dos Yanomami e apresenta algumas perspectivas para ilustrar como ontologias relacionais e histórias de divindades dialógicas e não hierárquicas, constroem formas de conhecer e de ser a partir das quais podemos aprender a nos relacionar com o Planeta Terra em pé de igualdade.