Esta tese é resultado de um estudo de romances angolanos e portugueses publicados depois de 1975, ou seja, após a Revolução dos Cravos e a Independência das Colônias Portuguesas em África, com o intuito de verificar os efeitos desses eventos na construção das identidades nacionais e no gênero romanesco produzido pelos dois países. O corpus de análise é composto pelas seguintes obras: Mayombe de Pepetela, Estação das chuvas de José Eduardo Agualusa, Também os brancos sabem dançar de Kalaf Epalanga, Os transparentes de Ondjaki, Os cus de Judas de António Lobo Antunes, A costa dos murmúrios de Lídia Jorge, O retorno de Dulce Maria Cardoso. A pesquisa conduziu à formulação dos conceitos de romance-nação e personagem-nação, como representações dos espaços e das identidades protagonistas das narrativas que reconfiguram a ideia de nação construída pelo colonialismo. Teoricamente, tratase de uma abordagem interdisciplinar que recorre a diferentes áreas de conhecimento, como a Teoria Literária, História, Sociologia, Geografia, Antropologia, Estudos Culturais e Filosofia; sendo esta a que, alinhada às formulações literárias, mais contribui para a compreensão das identidades das nações, dos personagens, narradores e do próprio romance como devir. Tal entendimento se baseia no que postularam os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari em consonância com outros teóricos como Achille Mbembe, Kwame Anthony Appiah, Zigmunt Bauman, Eduardo Lourenço, Boaventura Sousa Santos, Luís Kandjimbo dentre outros. Inicialmente faz-se um breve panorama sobre a evolução do romance do século XIX e seu monologismo onisciente até a polifonia, para então pensar as narrativas como rizomáticas e as identidades como devires. Em seguida problematizam-se os conceitos de lusofonia, literatura universal e literatura-mundo para interpelá-los quanto aos possíveis conteúdos neocoloniais que podem atravessá-los. Por fim, sistematizam-se os conceitos desenvolvidos ao longo da tese: o romance-nação e o personagem-nação como devires e um modo de ler romances sobre as identidades individuais e coletivas que compõem o que modernamente se concebe como nação.