As solidariedades transnacionais, fenômeno social de escala mundial: a perspectiva europeia

Abstract

A história das solidariedades transnacionais é relativamente recente. Ela é inseparável de uma maior interação entre as sociedades europeias no início do século 19 e da emergência de um sistema internacional. A solidariedade se torna então um “fato social” e não mais, apenas, um valor moral. Sua transnacionalização, que enfrenta problemas de definição, se desenvolve dentro de condições precisas. A partir de uma perspectiva sócio-histórica, o estudo das solidariedades transnacionais é dessa forma duplamente instrutivo para os internacionalistas. Ele se amparaem fenômenos sociais que se apresentam como marcadores e fatores de transformação nas relações internacionais contemporâneas.

Inobservância Dos Direitos Humanos E Desigualdades De Acesso a Vacinas Contra a Covid19 Nos Documentos Das Nações Unidas

“…Como compreender esta perspectiva das Nações Unidas, assentada na construção transnacional de solidariedade e colaboração, em relação ao acesso a vacinas e às diversas consequências oriundas da pandemia? Guillaume Devin (2016) alerta para a necessidade de entender a solidariedade transnacional como um fenômeno social. Neste caso, ela pode ser investigada a partir de uma perspectiva dos atores ou através das interdependências entre as muitas configurações.…”

“…São atores ou configurações, dependendo da perspectiva teórica 18 , os organismos internacionais, os Estados, as Organizações Não-Governamentais (ONGs), os movimentos sociais globais, entre outros. Não é possível imaginar, segundo diz Devin (2016), que as ações e movimentos em prol da solidariedade sejam fenômenos recentes. Eles estão presentes desde o século XIX.…”

“…Tomando-se como base as considerações de Devin (2016), pode-se perguntar: o que é a proposta de desenvolvimento humano, de implantação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMs) e dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis) se não uma proposta de geração de uma solidariedade transnacional? Conquanto a solidariedade entre Estados tenha-se revelado, na prática um fiasco, causa ainda mais perplexidade o fato de as Nações Unidas, desviando-se dos muitos desequilíbrios de poder vigentes na atualidade, suporem a ampliação e a difusão de uma frutífera aliança de cooperação e solidariedade entre empresas, fundos financeiros, organismos internacionais e Estados.…”

“…A ONU recomenda uma aliança colaborativa, nessa corrida pelas vacinas, sem, no entanto, enfrentar, a contento, a "ditadura das patentes" que negam qualquer possibilidade de "universalização do acesso", segundo consta na Petição por uma vacina universal e gratuita contra a covid-19 (LIWSKI;ESQUIVEL, 2020). 19 A CEPAL (Comissão Econômica para América Latina), criada no imediato pós-guerra, exemplificaria, segundo Devin (2016), a trajetória das Nações Unidas em busca da geração de uma solidariedade internacional em torno do desenvolvimento. 2020), idealizadores e encaminhadores dessa petição situam as reivindicações por universalização no âmbito de uma "ética da solidariedade" (LIWSKI; ESQUIVEL, 2020, p.1).…”

“…A solidariedade internacional é definida por Devin (2016) como uma forma de densidade moral supostamente construída para diminuir os sofrimentos individuais e coletivos em todas as partes do mundo 12 . A precariedade da solidariedade internacional, a qual vinha sendo problematizada, de modo crescente, nas últimas décadas por agências e fundos das Nações Unidas (PNUD, UNESCO 13 ), parece agora ostensivamente desafiada pela crise global potencializada pela pandemia.…”