Resumo Casas são materialidades centrais na elaboração de imaginários e políticas de ascensão social. Baseando-me em etnografia conduzida entre arquitetos, economistas e planejadores, examino os dispositivos que “performam” o mercado da casa própria no Brasil contemporâneo e suas operações de adequação a perfis de renda, classe social e aspiração cultural. Demonstro como a reconfiguração de empresas imobiliárias a partir do maior programa habitacional do país – o Minha Casa, Minha Vida – terminou por inventar um “mercado” emergente que conecta cidadania, consumo e moralidades de “classe média”. Nesse processo, ao qualificarem territórios, atributos, técnicas, padrões construtivos e design arquitetônico, experts fabricam materialidades políticas e sedimentam cartografias induzidas, engajando-se ativamente em processos de valorização e precificação que reinventam o território urbano das grandes cidades brasileiras.
Este artigo parte das tensões envolvidas no processo de remoção do mercado de rua do centro de Porto Alegre/RS e sua realocação para um shopping popular, construído através de uma Parceira Público-Privada (PPP). Privilegia-se a abordagem etnográfica, baseada numa inserção de campo de mais de três anos, que permitiu captar o processo em perspectiva diacrônica. A transição das ruas para o camelódromo foi acompanhada de perto pela empresa construtora, doravante responsável pela sua administração, que exigiu uma mudança na sensibilidade comercial, a partir de uma política de pedagogização, visando forjar novos perfis de comerciantes, algo indispensável ao sucesso econômico do empreendimento. Como consequência, novas modalidades de conflitos emergem diariamente dessa estratégia, pois, nem todos os camelôs se reconverteram no protótipo de lojista idealizado pela PPP. As tensões em torno desse processo permitem reconstituir os nexos entre economia e política, micro e macro, agentes e instituições que configuram o social.
Este artigo bibliográfico explora algumas linhas argumentativas presentes na obra do antropólogo e médico Didier fassin (1955-). a apresentação segue seu próprio percurso acadêmico e epistemológico, na busca por certa coerência entre sua trajetória e algumas de suas problematizações teóricas e metodológicas.De formação francesa, em princípios da década de 1980, o autor iniciou--se na medicina, com mestrado em Saúde Pública e posterior doutorado em ciências Sociais. trabalhou como médico em hospitais franceses, indianos e tunisianos, ao mesmo tempo em que realizava seu primeiro trabalho de campo no Senegal, abordando questões de saúde urbana e mudança social. Em seguida, no Equador, coordenou um programa sobre mortalidade materna e condições de vida.De volta à frança, nos anos 1990, desenvolveu pesquisas sobre desigualdades sociais em saúde, saúde pública local, imigração e discriminação em Paris e seus subúrbios, assim como sobre as políticas da aiDS na áfrica do Sul. a partir deste último trabalho, sobrevieram ainda outras temáticas, como as questões raciais e o modo como informavam as disputas entre governo e sociedade naquele país -problemas amplamente tratados em entrevista concedida pelo autor em outra oportunidade (Jaime & lima 2011). Da mesma forma, as questões raciais e humanitárias -que implicam a produção de dispositivos de seleção e exclusão -o conduziram a investigações sobre intervenções e governos humanitários e militares (fassin & Pandolfi 2010)
Este artigo problematiza o processo de constituição do roteiro turístico Rota Romântica ao longo do trajeto de catorze municípios de colonização alemã na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul. Busca compreender o modo pelo qual sua configuração suscitou profundas restruturações políticas, econômicas e sociais, colocando em jogo novas relações entre a cidade e seus habitantes, entre natureza e cultura, que passam a informar os cálculos em torno dos benefícios que a indústria turística poderá trazer à região. Metodologicamente, o artigo concentra-se na análise de entrevista realizada com seu atual presidente, de materiais de divulgação diversos, bem como da vida social de dois comércios familiares locais em reformulação. Reordenada em torno da nova gramática do mercado turístico, as disputas semânticas trouxeram consequências não somente para a construção de diferentes modalidades ou aptidões turísticas no interior da região, como também para a recomposição da vocação étnica e comercial dos mercados locais.
Política, economia e mediação simbólica: NotasHWQRJUiÀFDV VREUH D FRQVWLWXLomR GD FKHÀD VRcial a partir da experiência do Camelódromo de Porto Alegre? 1 MOISÉS KOPPERresumo 1 Este trabalho problematiza as disputas e processos de instituição do Centro Popular de Compras -popular "Camelódromo" -na Região Centro de Porto Alegre/RS. Com base na realização de observação participante multi-situada, discute--se, de um lado, as estratégias de governamentalidade associadas à força persuasiva do Estado, ao colocar a necessidade de higienização e urbanização do espaço público e, com ela, o deslocamento espacial e identitário de trabalhadores informais das ruas para a visibilidade jurídico-formal. De outro lado, questiona-se os modelos de gestão do Estado subjacentes às Parcerias Público-Privadas, à luz de sua contextualização local, isto é, dos camelôs afetados pelo processo de transição. O acompanhamento etnográ co dos itinerários de seu líder comunitário -Juliano Fripp -, conectando diferentes espaços da esfera pública (Câmara Municipal, Ministério Público, Prefeitura, Orçamento Participativo) às expectativas do grupo, permite entrever como se con guram as tensões mais amplas em torno dos processos político-econômicos que atravessam a instituição do Camelódromo. palavras-chave Camelódromo. Transição. Comércio informal. Mediação política. Estado.Na iminência de completar o primeiro ano de atividades, ainda é cedo para sugerir a ideia de que o Camelódromo de Porto Alegre está instituído e funciona com suas próprias engrenagens e roupagens. Localizado na Praça Ruy Barbosa, em pleno "coração" da cidade -a P ,
Este artigo parte das tensões envolvidas no processo de remoção do mercado de rua do centro de Porto Alegre/RS e sua realocação para um shopping popular, construído através de uma Parceira Público-Privada (PPP). Privilegia-se a abordagem etnográfica, baseada numa inserção de campo de mais de três anos, que permitiu captar o processo em perspectiva diacrônica. A transição das ruas para o camelódromo foi acompanhada de perto pela empresa construtora, doravante responsável pela sua administração, que exigiu uma mudança na sensibilidade comercial, a partir de uma política de pedagogização, visando forjar novos perfis de comerciantes, algo indispensável ao sucesso econômico do empreendimento. Como consequência, novas modalidades de conflitos emergem diariamente dessa estratégia, pois, nem todos os camelôs se reconverteram no protótipo de lojista idealizado pela PPP. As tensões em torno desse processo permitem reconstituir os nexos entre economia e política, micro e macro, agentes e instituições que configuram o social. Palavras-chave: Mercado Informal. Camelôs. Estado. Etnografia. Parceria Público-Privada FROM STREET VENDORS TO SHOP OWNERS: the transition from street markets to a mall in Porto Alegre Moisés Kopper This article starts off from the tensions involved in the process of removing the street Market from downtown Porto Alegre/RS, Brazil, and moving it to a popular mal built through a Public-Private Partnership (PPP). We gave preference to an ethnographic approach based on over three years of insertion if the field, which allowed us to capture the process from a diachronic perspective. The transition from the streets to the mall was closely followed by the construction company, that demanded a change in commercial sensibility from a pedagogical perspective with the aim of creating new profiles for the shopkeepers, something that was essential for the economic success of the investment. As a consequence, new conflicts emerged daily from this strategy, since not all street vendors became the prototype of shopkeeper idealized by the PPP. The tensions around this process allowed us to reconstruct the connections between economy and politics, micro and macro, agents and institutions that shape the social. Keywords: Informal Market. Street vendors. State. Ethnography. Public-Private Partnership. DE CAMELOTS À COMMERÇANTS: la transition d’un marché à ciel ouvert à un centre commercial à Porto Alegre Moisés Kopper Les tensions dues au processus d’élimination du marché à ciel ouvert dans le centre de Porto Alegre/ RS et de son transfert vers un centre commercial populaire, construit grâce à un partenariat publicprivé (PPP), sont à l’origine de cet article. On y privilégie une approche ethnographique faite à partir d’une insertion sur le terrain pendant plus de trois ans, ce qui a permis d’en saisir le processus dans une perspective diachronique. La transition de la rue vers le “camelotdrome” a été suivie de près par l’entreprise de construction dorénavant responsable de sa gestion. Ceci exigeait un changement de sensibilité commerciale grâce à une politique de “pédagogisation” pour créer un nouveau profil de commerçants, condition indispensable à la réussite économique de cette réalisation. L’une des conséquences est que de nouveaux types de conflits surgissent tous les jours de cette stratégie, car tous les camelots ne se sont pas reconvertis selon le prototype du commerçant conçu par le PPP. Les tensions autour de ce processus permettent de reconstituer les liens existants entre l’économie et la politique, micro et macro, les agents et les institutions qui forment le social. Mots-clés: Marché Informel. Camelots. État. Ethnograhie. Partenariat Public-Privé. Publicação Online do Caderno CRH no Scielo: http://www.scielo.br/ccrh Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br
Este artigo parte de uma pesquisa etnográfica sobre o camelódromo em Porto Alegre e as experiências do processo de transição neste contexto. 2 É consenso entre os estudiosos do tema que as décadas de 1980 e 1990e, de maneira geral, o fim do século passadoforam pontuadas pelo avanço e consolidação, em nível mundial, das políticas neoliberais e de privatização das instituições públicas. Esse modelo de gestão político-econômico-estatal estabeleceu, também, num nível ainda mais fundamental, o caráter das relações entre a sociedade civilparticularmente os movimentos sociais e reivindicatórios de políticas públicase o Estado. A clivagem que se estabeleceu entre esses dois pólos fundamentava-se na crença de que existia, no âmbito particular das relações econômicas, uma lógica imanente, de caráter natural, que se incrustaria na sociedade de forma espontânea, desde que fossem os homens livres para agir na persecução de seus interesses utilitários. Da mesma forma, e não menos importante, essa "ordem" ou "precipitação" natural está amparada na crença de que seria a mais favorável para a prosperidade dos homens e das nações; por extensão, estaria acima de qualquer intervenção que o Estado pudesse realizar na vida econômica. O substrato que permanece subjacente, em ambos os pressupostos, é de que não haveria um antagonismo entre os interesses individuais e o interesse geral da sociedade: a harmonia economia seria a própria essência da ordem natural. Sem dúvidas, trata-se da relação postulada entre o individualismo utilitarista e o determinismo cultural a partir da qual o Ocidente se autoevidencia e se reconhece como sujeito (Sahlins, 1982). Por sua vez, o projeto de concepção e planejamento de um Centro Popular de Compras que abrigasse os camelôs e comerciantes informais do centro de Porto Alegre não é um processo recente e precisa ser entendido a partir do campo de possibilidades 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. 2 Uma primeira versão deste artigo foi elaborada como monografia final do curso de Individualismo, Memória e Sociabilidade, ministrado pelas professoras Cornelia Eckert e Ana Luíza Carvalho da Rocha, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS-UFRGS), e apresentada no II Colóquio Individualismo, Sociabilidade e Memória. Agradeço, pois, aos comentários das professoras e, em especial, de Heitor Frúgoli Jr., com quem tive a oportunidade de debater os principais argumentos deste artigo.
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