Na prática da "mais antiga profissão do mundo" não há espaço para o amor, nem para qualquer tipo de afeto. Tal sentença, tão sedimentada no senso comum, não se sustenta, contudo, depois que lemos Prostituição e outras formas de amor, preciosa coletânea organizada por Soraya Silveira Simões, Hélio R. S. Silva e Aparecida Fonseca Moraes. Na verdade, já no início do volume os autores chamam nossa atenção para que apreendamos a prostituição em toda sua complexidade, pois esta envolve práticas, relações, desejos e valores.O livro é subdividido em quatro partes, intituladas "Políticas: a construção dos discursos" (Parte I); "Prazeres: a construção dos sujeitos" (Parte II); "Fronteiras: prostituição e outras formas de amor" (Parte III) e "Lugares: contextos, ações e práticas situadas" (Parte IV).No artigo que abre o livro, "O estado da saúde e a 'doença' das prostitutas: uma análise das representações da prostituição nos discursos do SUS e do terceiro setor" (CESAR, 2014, p. 29-56), Flavio Cesar contrapõe os discursos (re)produzidos pelos agentes do Sistema Único de Saúde (SUS) com as autorrepresentações das próprias prostitutas engajadas no movimento social, autorrepresentações essas que se chocam com discursos e representações, respaldados pelo saber biomédico, que terminam por engendrar um panorama no qual a prostituição não sobrevive a uma leitura estigmatizante, que a confinam numa moldura cujos contornos são traça-dos a partir de noções patologizantes.O segundo capítulo da obra, assinado por Veronica Munk, recebeu o provocativo título de "Em breve uma Europa livre de prostituição?" (MUNK, 2014, p. 57-71). Aqui, a autora problematiza uma antiga querela entre "moralistas" e "abolicionistas", isto é, entre aqueles favoráveis ao reconhecimento da prostituição como profissão regulamentada e aqueles cadernos de campo, São Paulo, n. 24, p. 575-580, 2015