Resumo: O objetivo deste artigo foi avaliar os fatores socioeconômicos, familiares e individuais associados ao desenvolvimento infantil no primeiro ano de vida, entre famílias em vulnerabilidade social. Trata-se de uma análise transversal, com dados da linha de base de um ensaio randomizado. O estudo incluiu 3.242 crianças < 12 meses de idade, residentes em 30 municípios de cinco regiões do Brasil. A escolha de estados e municípios foi intencional, tendo como base a implementação do Programa Criança Feliz. A amostra foi selecionada a partir de crianças elegíveis para o Programa Criança Feliz, cujo objetivo é promover a estimulação e o desenvolvimento infantil. O Ages and Stages Questionnaire (ASQ) foi utilizado para avaliação do desenvolvimento infantil. Um modelo de análise multinível em três níveis (estado, município e indivíduos), usando teste de Wald para heterogeneidade e tendência linear, estimou a média do ASQ-3 e intervalo de 95% de confiança (IC95%). Análises foram ajustadas para potenciais confundidores. Foram analisadas informações de 3.061 (94,4%) crianças com dados disponíveis para ASQ-3. Escores de desenvolvimento infantil (total e em todos os domínios) foram cerca de 12% menores em crianças nascidas pré-termo e com restrição do crescimento intrauterino (pequenas para idade gestacional). Observou-se menores escores em filhos de mães com baixa escolaridade, com sintomas de depressão, com duas ou mais crianças menores de sete anos residindo no domicílio e que não relataram autopercepção de apoio/ajuda durante a gestação. Conclui-se que características potencialmente modificáveis (escolaridade, depressão materna e prematuridade/restrição do crescimento intrauterino) apresentaram maior impacto na redução do escore de desenvolvimento em todos os domínios avaliados.
Resumo O Programa Criança Feliz (PCF) atinge 1,4 milhão de crianças brasileiras menores de três anos com visitas domiciliares visando o desenvolvimento neuropsicomotor. Com base em modelo conceitual, avaliou-se implementação e impacto do PCF em estudo randomizado, em 30 municípios. Ao todo 3.242 crianças foram alocadas para o grupo intervenção (GI) ou controle (GC), sendo 80,0% acompanhadas prospectivamente durante três anos. O desenvolvimento foi avaliado pelo Ages and Stages Questionnaire (ASQ3). Análises por intenção de tratar mostraram escores médios de 203,3 no GI e 201,3 no GC. Análises adicionais com variáveis instrumentais e emparelhamento por escores de propensão tampouco mostraram efeito, uma vez que o número de contatos recebidos não esteve associado aos escores ASQ3. Tampouco foi observado impacto sobre estimulação, interações responsivas ou atributos psicológicos das crianças. As visitas foram interrompidas durante 12 meses devido à COVID-19, sendo substituídas por contatos virtuais. O estudo de implementação revelou baixa cobertura no GI, contaminação do GC, deficiências na gestão e baixa qualidade das visitas em muitos municípios. O estudo não demonstrou impacto do PCF implementado sob condições de rotina e fornece elementos para seu aprimoramento.
The Happy Child Program (Programa Criança Feliz - PCF, in Portuguese) reaches 1.4 million Brazilian children under three years of age with home visits aimed at promoting neuropsychomotor development. Based on a conceptual model, PCF implementation and impact were evaluated in a randomized study in 30 municipalities. A total of 3,242 children were allocated to the intervention (IG) or control (CG) group, 80.0% of whom were prospectively followed up from late 2018 to late 2021. Development was assessed by the Ages and Stages Questionnaire (ASQ3). During the three-year study period, visits were replaced by virtual contacts for an average of 12 months due to COVID-19. At the endline survey, intent-to-treat analyses showed mean scores of 203.3 in the IG and 201.3 in the CG. Additional analyses using instrumental variables and propensity scores matching also showed no effect, since the number of contacts with the program was not associated with ASQ3 scores. No impact was observed on stimulation, responsive interactions or psychological attributes of children. The implementation study revealed low coverage in the IG, contamination of the CG, deficiencies in management and low quality of visits in many municipalities. The study did not demonstrate an impact of PCF implemented under routine conditions, but provides elements for its improvement.
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