Valores cívicos e morais em jogo na Câmara dos Deputados: a votação sobre o pedido de impeachment da Presidente da República

Abstract

Resumo Trata-se de analisar o conteúdo valorativo dos discursos dos parlamentares votantes a respeito da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente da República na Câmara Federal brasileira, com ênfase nas características das referências à religião e à família, consideradas como sintoma do poder de argumentos morais num contexto em que deveriam prevalecer os valores cívicos típicos da ideologia republicana moderna. Por meio de alguns modelos analíticos procede-se a uma discussão sobre a cultura política brasileira, particularmente no que concerne às classes populares.

A Theotókos De Vladimir Na Obra De Marko Ivan Rupnik

“…O grande número de adeptos que esses movimentos vem ganhando nos últimos anos, também tem levado a uma crescente participação no processo legislativo, dando a esses movimentos relevância no cenário político (PRANDI; SANTOS, 2017). Um exemplo dessa relevância aparece nos discursos do processo de abertura do impeachment da presidente Dilma (DUARTE, 2017;PRANDI;CARNEIRO, 2018), ou no grande número de deputados federais que formam a frente parlamentar evangélica eleitos para a última legislatura (195 deputados federais conforme dados apresentados pela câmara dos deputados em seu site oficial).…”

O catolicismo carismático no impeachment de Dilma Rousseff

“…Em cada um dos votos a favor, contra ou abstenção, as justificativas dadas pelos deputados versavam sobre as mais variadas coisas, derivada de circunstâncias diversas que endereçaram as tomadas de posição. Dentre as justificativas, chamou a atenção os votos em nome e/ ou em defesa de deus, da família e da região de pertencimento do deputado (Ribeiro, 2016;Almeida, 2017;Duarte, 2017;Prandi;Carneiro, 2018), o que reverberou, quase sempre negativamente, nas capas de muitos dos jornais do país (Weber et al, 2016) e do exterior (Nóbrega, 2016) no dia seguinte à conclusão do Ritual de Impeachment.…”

“…Dentre essas reflexões, Duarte (2017) se preocupa em refletir sobre o extenso vocabulário utilizado ao longo das falas durante o ritual de impeachment, expandindo o problema para além dos repertórios religiosos, familistas e localistas utilizados. Nessa direção, além de detectar os sentidos dos usos das palavras família e religião pelos deputados favoráveis e contrários à admissibilidade do processo de impeachment, Duarte apresenta os inúmeros termos operados: Brasil, bandeira, qualidade dos mandatos, partidos políticos, povo, democracia, constituição, estados, golpe, corrupção, ruas, crime de responsabilidade, atores políticos, movimentos sociais, esperança, futuro, honra, categorias profissionais, acusações, honrarias, elogios.…”

“…Além desses casos mais gerais analisados por Duarte, Almeida e Prandi e Carneiro, cabe frisar que, dentre as justificativas apresentadas no Plenário da Câmara dos Deputados, como mostrarei adiante, duas delas chamaram a atenção pela invocação do pertencimento à Renovação Carismática Católica 7 . Essas posições poderiam ser tomadas, seguindo Duarte (2017), como uma expressão dos valores particularistas que estariam assentadas no interior dos segmentos carismáticos citados. Mostraria um deus nas suas faces distintivas e valorativas, cujos princípios que encarnava deveriam ser defendidos, como mostrou Almeida (2017).…”

“…Duarte (2017) contabiliza que mais da metade das falas se concentrou em acionar dispositivos que chamou de universalistas.…”