INTRODUÇÃOA sífilis é uma das principais doenças sexualmente transmissí-veis (DST), sendo causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Manifesta-se com lesões de pele e mucosas, podendo haver acometimento sistêmico. O conhecimento da história natural da doença facilita o diagnóstico correto, os exames laboratoriais a serem solicitados, o tratamento a ser instituído e o acompanhamento posterior, os quais variarão com o estágio da doença. Em geral, passa por três estágios: primário, secundário e terciário. Entre essas fases podem ocorrer períodos de silêncio clínico, apenas com reações sorológicas positivas.A sífilis primária apresenta um cancro único, indolor, bem delimitado, que surge no local de inoculação em média 3 semanas após a infecção e tem resolução em 3 a 6 semanas, podendo estar acompanhado de adenopatia inguinal unilateral ou bilateral (1) . Pacientes com sífilis secundária podem apresentam sintomas sistêmicos que incluem cefaleia, febre, anorexia, perda de peso, dor de garganta e mialgia. Os principais sinais dermatológicos desta fase incluem exantema maculopapular, micropoliadenopatia generalizada, condiloma plano, placas mucosas e alopecia (2)(3)(4)(5) . A fase terciária, por sua vez, é caracterizada por lesões gomosas, associadas a manifestações sistêmicas como doenças cardiovasculares e neurológicas. Esta grande variedade de manifestações clínicas fez com que a sífi-lis passasse a ser reconhecida como doença "imitadora".É doença transmitida por via sexual (sífilis adquirida) e verticalmente (sífilis congênita). O contato com as lesões contagiantes (cancro duro e lesões secundárias) pelos órgãos genitais é responsável por 95% dos casos de sífilis. O risco de contágio varia de 10 a 60%, conforme a maioria dos autores.O encurtamento dos períodos de silêncio clínico é comumente visto em pacientes que apresentam coinfecção com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), havendo a possibilidade de o cancro persistir durante o estágio secundário (6)(7)(8)(9) . Não é usual tal alteração cronológica em pacientes sem essa coinfecção.Apresentamos dois casos de pacientes com persistência de cancro duro no secundarismo sifilítico e alertamos para a perda de qualidade no atendimento médico quando uma anamnese cuidadosa e uma boa avaliação clínica não são aplicadas, principalmente em DST.
RelaTO De CasO Caso 1Paciente masculino, 23 anos de idade, natural e residente da Etiópia, apresentou, há 4 semanas, história de uma úlcera indolor na glande peniana e de 1 semana de exantema maculopapular. O paciente relatou ter múltiplos parceiros sexuais e não usar preservativo. Ao exame dermatológico, havia uma úlcera única, indolor, com fundo limpo, localizada na glande (Figura 1), além de inú-meras pápulas localizadas na fenda glútea, bolsa escrotal, região
ResUMOA sífilis é uma doença infectocontagiosa de alta prevalência, especialmente nos países em desenvolvimento, e costuma ser denominada a "grande imitadora", devido seu polimorfismo lesional. A divisão da doença em fases é apenas didática e tem importância no manejo ...