INTRODUÇÃO E ANTECEDENTES DA HIPÓTESETodos sabem que as pessoas infectadas pelo HIV manifestam variados e intensos distúrbios psicológicos, mas estes são vagamente explicados, mesmo por profissionais, sobretudo por ausência de um adequado referencial teórico. Tal referencial é proposto abaixo, através de uma hipótese sobre os distúrbios ao longo de toda a doença.A hipótese foi desenvolvida a partir de dois contextos. O primeiro foi a observação empírica de distúrbios relatados em entrevistas com pessoas infectadas pelo HTV, os quais eram claramente oriundos de idéias pseudocientíficas em torno da epidemia de AIDS. Tais idéias, as mais freqüentes e constantes, resumem-se em três grupos: 1) Mecanismos de infecção não-comprovados -às vezes, era como se a pessoa infectada pelo HIV fosse um amontoado de vírus e que estes escoariam pela saliva, suor, lágrimas, escarro e os demais excretas. 2) Problemas com os direitos da pessoa, para os quais os dispositivos de lei não eram claros ou eram inoperantes.3) A invasão da privacidade da pessoa, tornando pública sua vida sexual, mais seriamente no âmbito ocupacional.Visivelmente, as pessoas infectadas pelo HIV ficam submetidas a essa superestrutura*, exterior a elas próprias, do conjunto estável dos três tópicos acima e outros aspectos menos graves.O segundo foi o contexto teórico, vindo do Perfil Psicológico da Doença Fatal (PPDF), em adulto previamente saudável e na ativa ocupacional. O PPDF manifesta-se em doenças como o infarte do miocardio, leucemia, câncer do pulmão e de outros tipos, como estudado por Arce (1971( ) e Feifel et al. (1973. Em que consiste o PPDF? -É um esquema como o da Fig. I, que representa os distúrbios emocionais ao longo da evolução de doença fatal bem medicalizada (a Medicina domina a doença em si e seu contexto), em pessoa previamente saudável, no qual há três ou quatro fases distintas, como se segue: * A essa superestrutura chamamos de mentalidade "aidética" projetada, porque, em extremo, assume-se aqui que é um imaginário sobre as pessoas infectadas pelo HIV; o "aidético" não vem dessas pessoas, nem constitui características delas.