Sociologia pragmática: guia do usuário

Abstract

Em trinta anos, a "sociologia pragmática" (também denominada "sociologia das provas") efetuou pesquisas empíricas relativas a todas as áreas da vida social. Em conformidade com os postulados teóricos que defendiam, os pesquisadores que se reconhecem nessa corrente sociológica criaram maneiras consideravelmente novas de efetuar a pesquisa, coletar dados, explorar os campos, pensar cada caso e se servir das controvérsias e dos escândalos públicos como pontos de entrada na ordem social e na questão de sua problemática reprodução. O objetivo deste artigo é caracterizar em dez pontos o estilo pragmático em sociologia e indicar seus requisitos metodológicos e suas consequências práticas para o trabalho de investigação.

Diversidade, diferença e currículo de matemática: relações entre macropolíticas e o tempo dos atores na escola

“…Deste modo de análise, decorre um dos princípios estruturantes para a análise sociológica pela via da sociologia pragmática, o princípio da simetria. Este assume um ideal de igualdade de tratamento entre as partes em um conflito, sem negar assimetrias e desigualdades que marcam os contextos, mas, sobretudo, buscando investigar como assimetrias e desigualdades se reproduzem e, por vezes, se desafazem (BARTHE;REMY;TROM et al, 2016, p.110). A partir deste princípio, a sociologia das provas nos convida, como pesquisadores da educação matemática, a observar e acompanhar diretamente os atores e suas ações sem julgamentos prévios e sem atribuir-lhes incapacidades determinadas por certa condição social, por exemplo na educação, por ser um analfabeto.…”

“…Deste ponto de vista, o programa da sociologia das provas não consiste em presumir uma incapacidade crítica naqueles que parecem não se revoltar contra a injustiça ou a desigualdade sofrida, mas em investigar apoios materias e organizacionais que lhes faltame que lhes permitiriam dar mais visibilidade ao caráter desigual de certas relações sociais ou de certas políticas caso tivessem. (BARTHE;REMY;TROM et al 2016, p. 112) Privilegia-se, deste modo, o princípio da reversibilidade de poder, mesmo quando as estruturas se mostrem aparentemente estáveis, reconhecendo a capacidade concreta de ação e resistência dos sujeitos nas situações de conflito. Exemplos do campo educacional indicam este não silenciamento dos estudantes, como no caso do movimento de ocupação das escolas por estudantes ocorrido em diversas cidades brasileiras, ou ainda no posicionamento individual de um estudante ao indagar um professor sobre a necessidade de aprender matemática.…”

“…Mas ele também o leva, em um segundo momento, a voltar do passado para o presente, munido de novas interrogações e de um olhar diferentemente informado para observar as situações atuais. (BARTHE;REMY;TROM et al 2016, p. 94) Embora esta postura nos coloque diretamente no universo particular (micro) das ações sociais, a sociologia pragmática nos alerta sobre a necessidade de identificar uma articulação entre os níveis macro e micro como um campo de interferências mútuas e não necessariamente como um campo em oposição.…”

“…Em termos dos funtamentos teóricos utilizados para a análise, alimentamo-nos de uma análise sociológica para o problema da diversidade no currículo de matemática, com ênfase para as contribuições do campo da sociologia pragmática (BARTHE et al, 2016;DIAS, 2016;). Esta teoria se mostrou valiosa para a pesquisa ao permitir articular as relações existentes entre as macropolíticas, evidenciadas pelas análises dos efeitos indutores das políticas nacionais da diversidade, e o tempo dos atores (TRABAL, 2012;TRABAL e SANTOS 2014 no contexto da escola em seus regimes de envolvimento e ação constituídos como situações de prova .…”

“…difundidos pela sociologia pragmática, campo de pesquisa que tem produzido novos modelos de análise para as questões sociais e para as relações entre macroestrutura e tempo da ação dos atores locais (BARTHE, 2016;CORRÊA, 2014;TRABAL, 2012). A Sociologia pragmática tem se mostrado fértil para análises também no campo da educação e da educação matemática TRABAL, 2014;TRABAL, 2011).…”