RESUMOObjetivo: partindo do pressuposto que a atividade lingüística é constitutiva do sujeito, esse trabalho busca discutir o processo de apropriação da escrita, na clínica de linguagem, a partir da relação que o aprendiz estabelece com o outro, fonoaudiólogo. Métodos: foi analisado longitudinalmente o caso de um sujeito dito portador de distúrbio de leitura e escrita, o qual antes de submeter-se a avaliação fonoaudiológica apresentava produções escritas distantes da convenção ortográfi ca. Resultados: a terapia de linguagem foi efi ciente para apropriação da modalidade escrita, já que no decorrer do tratamento houve melhora e superação das queixas. Conclusão: por meio da atividade conjunta de construção da escrita, na clínica de linguagem, entre o sujeito dessa pesquisa e o fonoaudiólogo, o primeiro pode ser percebido como alguém capaz de fazer uso signifi cativo da escrita.
DESCRITORES:
INTRODUÇÃOO presente trabalho teve sua origem a partir da constatação de um aumento signifi cativo de encaminhamentos para avaliações e atendimentos de crianças consideradas como portadoras de dificuldade ou distúrbio de aprendizagem de leitura e escrita à clínica fonoaudiológica 1,2 . Esses encaminhamentos, em geral, são fundamentados no fato destas crianças não seguirem o padrão de aprendizagem estabelecido pela escola para essa modalidade de linguagem. Na prática clínica, observa-se também que os profi ssionais envolvidos no diagnóstico e no tratamento destas crianças -médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e ■ psicopedagogos -em muitos casos confi rmam a suspeita da escola, na medida em que se afastam de critérios lingüísticos capazes de esclarecer o processo de apropriação do objeto escrito 1,2 . Ressalta-se, porém, que não é possível falar sobre difi culdades de leitura e escrita de modo consensual, pois há discordâncias de caráter etioló-gico, sintomatológico e terminológico acerca dessa temática 3 . Estudiosos da educação alinhados à visão neuropsicológica 4-6 apontam sintomas como difi culdades para discriminar formas, tamanhos e cores; difi culdades na discriminação de fi gura-fundo; problemas de noção corporal; difi culdades na coordenação de movimentos. Citam ainda disfunção cerebral relacionada ao sistema nervoso central e ao "amadurecimento" desse sistema 7 . Nessa direção, a área educacional, assim como a médica, apresenta uma tendência em detectar falhas orgânicas, localizando os problemas no aprendiz 3,8,9 . Entretanto, algumas pesquisas discutem criticamente essas posições e questionam: "de onde vem a força do pressuposto de que problemas de linguagem são determinados por difi culdades perceptuais, mesmo frente aos sucessivos fracassos em se estabelecer objetiva e claramente as relações entre percepção e linguagem?" 10 . Na escola, de forma geral, questões educacionais, culturais e familiares não são devidamente