Estudar a relação entre o sentido pessoal da escola, o sofrimento e o fracasso escolar deve-se não apenas ao fato de que alguns desses temas são emergentes, ou mesmo recorrentes na área da Psicologia da Educação, mas, sobretudo, pelo fato de que, segundo uma pesquisa realizada por Oliveira (2012), junto a adolescentes com dificuldades no processo de escolarização, a falta de sentido pessoal e a ocorrência do processo de sofrimento na escola podem ser responsáveis pela permanência dos altos índices de fracasso escolar no Brasil.Nessa pesquisa, intitulada "O sentido pessoal da escola e o sofrimento em adolescentes com dificuldades no processo de escolarização", o autor demonstra que, por uma série de fatores construídos historicamente e no seio de uma sociedade de classes, os alunos das camadas menos favorecidas, dependentes da escola pública, acabam ficando mais vulneráveis a um processo excludente e perverso de não apropriação do conhecimento e de culpabilização pelos erros e fracassos, levando ao aumento da possibilidade de sofrimento para esses estudantes e da escola tornar-se algo sem um sentido prático para os mesmos.Nesse contexto, o processo de escolarização que já é dificultado por tais aspectos, fica ainda mais complicado quando diz respeito ao período da adolescência, marcado por mudanças físicas e psicológicas que fazem dessa fase a mais instável e turbulenta do desenvolvimento humano em nossa sociedade, o que nos motiva a investigar o processo de escolarização nessa etapa específica da vida justamente por carregar peculiaridades e diferenças fundamentais dos demais períodos, fazendo com que o sofrimento possa ser vivenciado com ainda mais intensidade pelos alunos.Portanto, tendo como base a referida pesquisa, nos apoiaremos nos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural e do Materialismo Histórico e Dialético para fazermos o entrelaçamento entre sentido da escola, sofrimento e fracasso escolar, objetivando demonstrar a convergência desses temas em um ponto comum: as dificuldades no processo de escolarização na adolescência. Tais pressupostos defendem uma educação preocupada com a emancipação humana e com o desenvolvimento máximo das potencialidades do indivíduo, por meio da apropriação do conhecimento científico produzido pelo homem no decorrer do processo sócio histórico, possibilitando a sua completa humanização e limitando, consequentemente, as manifestações do sofrimento em quaisquer âmbitos, inclusive no escolar. Na realidade, tal forma de se fazer ciência parte do entendimento de que toda a ação humana é determinada histórica e socialmente, e que, portanto, está condicionada ao movimento histórico e social dos homens na produção de suas vidas.