Racionalidades leigas e governação da Saúde Mental em Portugal

Abstract

O artigo reafirma a importância das racionalidades leigas produzidas em Saúde Mental como expressões válidas de saber, com especial atenção aos aspectos éticos relacionados aos usos sociais dos conhecimentos gerados. Defende-se a ideia de que devem servir à criação de estratégias inovadoras que respondam efetivamente às necessidades das pessoas e como contrapoderes às lógicas hegemônicas. O contexto da governação da Saúde Mental em Portugal e as características estruturais da sociedade portuguesa refletem-se nos serviços efetivamente implementados e na percepção dos usuários a respeito da sua condição. A valorização das racionalidades leigas em um cenário hegemonicamente tecnicista e biomédico possibilita reafirmar a diversidade como condição humana. Nessa direção, insere-se como fundamento para a abordagem em realidades complexas e plurais como a Saúde Mental, incorporando a dimensão cultural às ações desenvolvidas.

Cultural influence on angolan maternal care of newborns and health strategies: health professionals’ perspective

“…Science is objective and neutral and reduces phenomena to controllable dimensions, separating its analytical field from the cultural contexts and meanings. Popular knowledge integrates the culture of a group, practices and behaviours lived in a given context and knowledge from various fields, in which religion, morality and magic are included (Ramos 2004 a;Alves, 2015). Thus, there are two explanatory models of illness, the scientific and lay models, in which individuals build plural itineraries and mobilise the resources which enable them to access healthcare more swiftly and effectively.…”

Influência das avós nos cuidados ao recém-nascido em Angola

“…O senso comum interpreta continuamente a realidade, a experiência vivida, e negoceia de acordo com os sentidos do grupo, opondo-se ao conhecimento científico. A ciência é objetiva e neutra e reduz os fenómenos às dimensões controláveis, separando do seu campo analítico os contextos e os significados culturais (Alves, 2015). O saber popular integra a cultura de um grupo, as práticas e os comportamentos vividos em um determinado contexto, bem como conhecimentos de vários campos, nos quais se inclui a religião, a moral, a magia.…”

“…Nestes saberes leigos de saúde e de doença, sua principal função não é conhecer (exigência de saber), mas antes dar um sentido (exigência de significação). Deste modo, a saúde e a doença são conceitos que se constroem na experiência cotidiana, subjetiva, e os sentidos atribuídos no campo da saúde não resultam de uma visão profissional difundida pela medicina, mas de diferentes fontes (Ramos, 2004a;Alves, 2015). Existem, assim, dois modelos explicativos da doença, o científico e o tradicional, ou leigo, em que os usuários constroem itinerários plurais e mobilizam os recursos que lhes permitem um acesso mais rápido e eficaz aos cuidados de saúde.…”

“…O saber científico é construído no contacto com os profissionais de saúde durante as consultas individuais ou nas atividades realizadas em grupo. Ao aumentar a proximidade com o paciente e o profissional de saúde poderá exercer de forma assertiva e eficaz o seu poder de influência para implementação de saberes científicos e adoção de práticas de saúde corretas e estilos de vida saudáveis, de modo a colaborar para a obtenção de ganhos em saúde (Alves, 2015).…”

Plural Nature(s): An Overview of Their Sociocultural Construction

“…It also means recognising the knowledge that emerges from the struggles of social movements for human dignity. Accepting this challenge means recognising and valuing alternative ways of being and, consequently, the epistemological diversity of the world, as opposed to dominant ways of knowing [27][28][29][30]. This challenge indicates the establishment of deliberative contexts valuing traditional, scientific, and local knowledge for informed decision making through affirming various knowledge sources and alternative ways of knowing in environmental discussions, as well as the need to articulate them.…”