Debates acerca de aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais não são muito comuns na academia brasileira. Claro, todo trabalho que se preza publicado nessas plagas contém algum "debate" teórico e, por vezes, metodológico, mas em geral esse "debate" se dá entre o autor brasileiro e autores-fonte internacionais, que raramente respondem a essas interpelações; diálogo sem volta. Não é o caso do presente artigo. Ele tem o propósito de responder a uma crítica feita por Luis Felipe Miguel acerca de aspectos teóricos e metodológicos relativos ao emprego da metodologia de análise de valências (MAV), particularmente nos estudos de mídia e política.Em artigo na Revista Brasileira de Ciência Política, Miguel (2015) dedica--se a criticar veementemente a MAV, identificando entre seus praticantes Marcus Figueiredo, Alessandra Aldé, Felipe Borba, Pedro Mundim e, mais recentemente, as análises do site Manchetômetro (www.manchetometro.com).Em texto anterior, escrito em conjunto com Flávia Biroli, Miguel já havia esboçado críticas a essa metodologia, mas de maneira breve (Biroli e Miguel 2013). Naquela oportunidade argumentaram que a MAV tinha dois problemas fundamentais: supor que seus resultados eram partilhados por jornalistas (emissores) e pelos mais variados segmentos do público (receptores), e que seria possível "mensurar a priori o impacto do noticiário 'positivo' ou Revista Brasileira de Ciência Política, nº19. Brasília, janeiro -abril de 2016, pp. 277-298.