RESUMO: Partindo da proposta de que o cotidiano é tudo que temos, de que só há lugares e micro-lugares entendidos enquanto pequenas seqüências de eventos e nada mais além disso, o trabalho aprofunda suas conseqüências para a pesquisa em psicologia social focalizando não somente os lugares e suas re-descrições mas também o reposicionamento do pesquisador no cotidiano como somente um entre muitos membros competentes de uma comunidade moral, que busca argüir e agir para melhorias, tal como também fazem as outras.PALAVRAS-CHAVES: Cotidiano; micro-lugares; verdades; sentidos.
THE CONVERSING RESEARCHER IN EVERYDAY LIFEABSTRACT: This paper examines the implications for social psychology of the proposal that the day-to-day is all we have, that there are only places and micro-places understood as small sequences of events and nothing more and goes on to look at the implications for the researcher in everyday life seen as simply yet another competent member of a moral community.KEYWORDS: Everyday; micro-places; truth, meaning.Chiang Yee, escritor chinês e excelente narrador de contos, passou o período de espera no início da segunda guerra mundial na Inglaterra e documentava suas observações no livro 'The silent traveller in war time' [O viajante silencioso em tempos de guerra, 1939]. Um dos contos era sobre os residentes de Londres no verão do 'vai -não vai' quando, na antecipação daquilo que poderia vir (e lembrando a primeira guerra mundial), mascaras de proteção contra gás foram distribuídas para toda a população em pequenas caixas de papelão que as pessoas carregavam para onde fossem. Acompanhava o texto o desenho de um escriturário, num daqueles dias raros e bonitos de verão inglês quando a temperatura sobe para mais de 18 graus centígrados, esticado na grama de um parque no centro da cidade, vestido de camisa e gravata, com o paletó dobrado cuidadosamente a seu lado e com os braços atrás da cabeça para servir de travesseiro -tomando seu banho de sol usando sua mascara de gás.O que é o cotidiano? Será que a expressão se refere a algo simplesmente mundano, uma parte corriqueira e irrelevante da vida, separada e distinta dos acontecimentos importantes ou, ao contrário, o cotidiano é tudo que temos? Argumentamos que todos vivem no seu cotidiano sejam eles presidentes, prefeitos, reis e rainhas, chefes, escriturários, moradores de rua ou qualquer um de nós. Podemos, no jogo dos sentidos, valorizar o cotidiano de alguém como sendo importante no sentido institucional; mas esta é uma questão diferente. Ao contrário, propomos que todos nós, independentemente de onde estamos e quem somos, acordamos pela manhã e entramos no dia que temos pela frente; dia este que nada mais é que um fluxo de fragmentos corriqueiros e de acontecimentos em micro-lugares.