IntroduçãoOs dados dos censos demográficos do ibge mostram que o Brasil está passando por uma grande transformação na sua moldura de filiações religiosas. A aceleração das mudanças econômicas, sociais e demográficas, passando de uma conformação rural--agrária para uma configuração urbano-industrial, provocou descontinuidades entre uma época marcada pelo baixo ritmo de mudança e uma nova era, de ritmo acelerado, em que o tempo e o espaço são mutáveis e constantemente desestabelecidos. Na segunda modernidade, como mostrou Giddens (1991), a reflexividade passa a ser uma característica fundamental das ações humanas, havendo diferentes "mecanismos de desencaixe" que deslocam as relações sociais dos seus contextos locais de interação. A ordem social tradicional tem sofrido sucessivos abalos e liberado forças reprimidas e concentradas que explodem em novas formas de relacionamento, gerando uma dinâmica de ondas consecutivas de mudanças e inovações que se difundem pelo território nacional, em diferentes ritmos, às vezes superpostas, mas ainda sem encontrar uma nova acomodação. As novas gerações vivem em um mundo diferente daquele dos seus antepassados e são mais sucetíveis à migração religiosa, às novas formas de pertencimento e às diferentes experiências religiosas, não necessariamente institucionalizadas.