Resumo. Este artigo busca explicitar a estrutura conceitual e epistemológica de uma descoberta científica de modo a contrapor a dicotomia entre os contextos da descoberta e da justificativa, perpetuada por muito tempo na esfera científica. Para tanto, apresenta as ponderações de Hanson, Kipnis e Kuhn sobre esse tema. No ensino de ciências, discussões acerca do processo de uma descoberta ainda são raramente existentes. Desta forma, normalmente, são disseminadas várias imagens inadequadas sobre a ciência. Uma análise da terminologia descoberta nos livros didáticos aprovados no PNLD/2012 evidencia as concepções de ciência que se pode transmitir no ensino quando se utiliza, de maneira ampla e inadvertidamente, esse termo. Por fim, procura argumentar que o contexto da descoberta possui elementos complexos e lógicos, e está, de forma intrínseca, relacionado ao contexto da justificação. Abstract. This article seeks to clarify the conceptual and epistemological structure of a scientific discovery in order to oppose the dichotomy between the contexts of discovery and justification, long perpetuated in the scientific sphere. It presents the weights of Hanson, Kuhn and Kipnis on this topic. In science education, discussions about a discovery process are rarely available. This way are usually disseminated several inappropriate images of science. An analysis of the discovery terminology in textbooks approved in PNLD/2012 shows the science conceptions that can be transmitted when those are used in teaching, broadly and inadvertently this termination. Finally, seek to argue that the context of discovery has complex and logic elements, and is intrinsically related to the context of justification. Palavras-chave: descoberta científica, ensino de ciências, contextos da descoberta e da justificativa Keywords: scientific discovery, science education, contexts of discovery and justification
IntroduçãoEm uma investigação científica, o estudioso elabora e testa hipóteses, erra, passa por situações inesperadas, observa, argumenta, interpreta etc., até que, ao final desse processo, diz-se que ele descobriu algo -em casos específicos, pois nem sempre uma investigação científica leva a uma descoberta. Ao final e durante essa investigação, é preciso criar uma justificativa -argumentos -para a pesquisa realizada, bem como para seus resultados. Dessa forma, em muitos casos, as questões relativas à gênese do conhecimento ficam ofuscadas diante da transcrição da validade do corpo teórico (STEINLE, 2006). O desenvolvimento de um conhecimento científico não é tão simples, como muitas vezes se deixa transparecer. No ato de descobrir, o estudioso justifica suas ações, seus passos e seus progressos, seja divulgando explicitamente seu trabalho à comunidade científica ou compartilhando seus argumentos com os pares de forma indireta através de conversas, cartas, por exemplo. Todo argumento requer 'verificação', 'confirmação', 'observação', 'interpretação', 'hipóteses' que fazem parte da sua