2017
DOI: 10.1590/1807-57622016.0625
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“O silêncio dos inocentes”. Os paradoxos do assistencialismo e os mártires do Mediterrâneo

Abstract: A gestão de imigrantes e refugiados tornou-se, nos últimos anos, um dos principais desafios sociais. Por meio da apresentação de recentes casos internacionais e da minha pesquisa no âmbito da saúde mental de imigrantes e refugiados em Portugal, irei não só reconsiderar as consequências trágicas do endurecimento das políticas migratórias e do fortalecimento da fronteira meridional da Europa, mas, também, criticar a patologização da experiência migratória no léxico do trauma e na sua midiatização. O objetivo fin… Show more

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“…Por fim, também parece ser possível apontar para a coprodução do ambiente psicoterapêutico e dos critérios de elegibilidade para adentrá-los, como também o fazem Cabot (2013), Zelaya (2016) e Pussetti (2017): o grupo de troca não trata do trauma passado pois não é o que o sujeito do refúgio traz para trocar. Talvez seja possível concordar com Zelaya (2016) sobre a existência de um "campo de interlocução em transformação", sugerindo a construção de novos sentidos para a experiência do refúgio, afastados da imagem do refugiado enquanto vítima (Zelaya, 2016, p. 419) -ou, ao menos, enquanto vítima de seu passado e de sua experiência de deslocamento forçado.…”
Section: Os Grupos Terapêuticos: a Busca Pelo Sofrimento Passadounclassified
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“…Por fim, também parece ser possível apontar para a coprodução do ambiente psicoterapêutico e dos critérios de elegibilidade para adentrá-los, como também o fazem Cabot (2013), Zelaya (2016) e Pussetti (2017): o grupo de troca não trata do trauma passado pois não é o que o sujeito do refúgio traz para trocar. Talvez seja possível concordar com Zelaya (2016) sobre a existência de um "campo de interlocução em transformação", sugerindo a construção de novos sentidos para a experiência do refúgio, afastados da imagem do refugiado enquanto vítima (Zelaya, 2016, p. 419) -ou, ao menos, enquanto vítima de seu passado e de sua experiência de deslocamento forçado.…”
Section: Os Grupos Terapêuticos: a Busca Pelo Sofrimento Passadounclassified
“…Esse sujeito parece escapar às tentativas de conformá-lo na narrativa do trauma enquanto sofrimento passado e enquanto delimitador de sua condição de vítima. A categoria, da mesma forma que a de "refugiado", parece ser tratada enquanto bloco monolítico que homogeneíza as experiências múltiplas do refúgio (Malkki, 1995;idem, 1996) por parte do PSM, ao passo que os sujeitos do refúgio frequentemente se esforçam por coproduzir o lugar de refugiado e dos auxílios destinados a eles (Malkki, 1995;Fassin, Rechtman, 2009;Cabot, 2013;Zelaya, 2016;Pussetti, 2017) O próprio serviço pesquisado, ao realizar a distinção entre refugiados brancos e refugiados negros, parece fazê-lo associando o "ser negro" ao "ser refugiado", classificando automaticamente pessoas negras enquanto refugiados, e desconsiderando a existência de refugiados brancos. Ainda assim, os sujeitos do refúgio apontam para a indistinção da experiência do refúgio negro e do refúgio branco por parte dos serviços, advogando a ideia de que essa indistinção serve justamente para tratar de maneira igual àqueles que são diferentes.…”
Section: Considerações Finaisunclassified
“…O texto de abertura, concebido por Chiara Pussetti e intitulado "O silêncio dos inocentes -Os paradoxos do assistencialismo e os mártires do Mediterrâneo" 6 , expõe algumas reflexões sobre as iniquidades e tragédias vivenciadas pelos povos africanos que navegam pelo mar Mediterrâneo em direção ao velho continente. A autora, por intermédio de um estilo ensaístico, emociona o leitor com uma escrita teoricamente densa, que descreve as correntes de representações, ideias e práticas construídas no continente europeu e que colocam os processos migratórios à sombra da história, acusando a formulação e a prática de uma gestão dos imigrantes embasada na ideia central de controle social.…”
unclassified
“…Somos, portanto, conduzidos a certa visão homogeneizante e superficial sobre os imigrantes que escondem as mais variadas e complexas relações sociais em seus percursos como deslocados e/ou indesejados. O "outro que sofre", como nos ensina Chiara Pussetti 6 , não pode ser reduzido à exclusiva condição de vítima.…”
unclassified
“…O segundo ponto é o que vimos também problematizado por Sontag (2003) sobre a obscenidade veiculada nos corpossempre estrangeirose na discrição reservada ao sofrimento dos que são familiares. Segundo Chiara Pussetti (2017): "o sofrimento de quem é próximo, dos nossos amigos e familiares, merece maior discrição: a morte dos 'nossos' é para ser respeitada e protegida, certamente, não exposta pornograficamente" (s.p.). O excesso de imagens dos corpos em sofrimento revela, nesse sentido, também a obscenidade que não suportaríamos com corpos daqueles de quem sabemos a história, e que temos como caros.…”
Section: Política Do Muro Política Da Indiferença E a Necropolítica:unclassified