Este artigo pretende abordar alguns aspectos que perfazem uma certa tese (ou ideia-força) que, a meu ver, atravessa parte expressiva de nosso pensamento social, entrecortando autores, perspectivas e, no limite, "famílias intelectuais" (Brandão, 2007) as mais diversas 1 : a tese da "singularidade brasileira". Visitarei essa ideia-força por meio da consideração crítica de uma questão que habita as reflexões de uma "linhagem" do pensamento social brasileiro -aquela que, no meu entendimento, tem Gilberto Freyre como uma de suas figuras-chave. São muitos os temas que têm atraído atenção 1 Gildo Marçal Brandão entende serem famílias intelectuais "'estilos' determinados, formas de pensar extraordinariamente persistentes no tempo, modos intelectuais de se relacionar com a realidade que subsumem até mesmo os mais lídimos produtos da ciência institucionalizada, estabelecendo problemáticas e continuidades" (Brandão, 2007, p. 29). Conforme salientei há pouco, entendo que a "tese da singularidade brasileira" entrecorta famílias intelectuais diversas no seio do pensamento social brasileiro, a despeito de suas irredutíveis especificidades. * Uma primeira versão deste artigo foi apresentada no 34º Encontro Anual da Anpocs (Caxambu-MG, 2010). Beneficiei-me sobremaneira de considerações crí-ticas que lhe foram dirigidas. Quero agradecer primeiramente Milton Lahuerta e Eurico Cursino dos Santos, por acolherem a proposta. Um agradecimento especial a Elide Rugai Bastos pelos valiosos comentários e críticas. Procurei contemplar muitas das sugestões e críticas a minha proposta interpretativa.