ResumoEste trabalho tem como objetivo avaliar a viagem realizada por Fernando Collor de Mello a doze países (Argentina, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos, Japão, União Soviética, Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Portugal, Espanha) no curto período entre a eleição e a posse. Parte-se da hipótese de que o presidente-eleito foi motivado pela necessidade de recuperar a credibilidade internacional do Brasil, que havia sido comprometida ao longo do governo Sarney em função de três grandes problemas: protecionismo comercial, dívida externa e ecologia. Para resgatá-la, Collor valeu-se de três estratégias: (1) aproximou-se do Itamaraty no processo, com vistas a dirimir as costumeiras críticas quanto ao "amadorismo" do presidente, carente de bases político-partidárias; (2) reafirmou seu papel como principal fiador internacional do Brasil, descolando-se da imagem deixada pelo governo Sarney; (3) enfatizou os três temas que eram mais sensíveis à imagem do país no mundo. No contexto de sua viagem, Collor lançou as bases da autonomia pela modernização, que foi a estratégia de inserção internacional adotada ao longo de seu governo.Palavras-chave: política externa; Collor de Mello; diplomacia presidencial; Itamaraty; modernização.
AbstractThis article looks at President-elect Fernando Collor de Mello's global tour to twelve countries (Argentina, Uruguay, Paraguay, United States, Japan, Soviet Union, Germany, Italy, France, England, Portugal, and Spain) in the short period between his election and inauguration. Our hypothesis is that Collor was driven by the need to restore Brazil's international credibility, which had been damaged throughout the Sarney administration due to three key problems: trade protectionism, foreign debt, and ecology. To rescue the country's credibility, Collor resorted to three strategies: (1) he got closer to Itamaraty so as to armor himself against criticisms towards his lack of political substance and alleged amateurism; (2) he reaffirmed his role as Brazil's main international broker, detaching the country from the image left by Sarney's government; (3) he emphasized the three issues that were most sensitive to the country's image globally. In the context of his trip, Collor laid the groundwork for autonomy through modernization, which would be the global strategy adopted in his years in office.