Notas sobre o problema da explicação e da experiência no ensino da Filosofia

Abstract

Apesar do esforço dos defensores do ensino da Filosofia para que essa disciplina volte a fazer parte do Ensino Médio, observamos, atualmente, seu abandono nos cursos universitários. Notamos que hoje, na sociedade normalizada e no espaço educacional, não é mais valorizado o desenvolvimento integral do pensamento, mas a transmissão de uma série de conteúdos que, supostamente, dão condições para a integração do estudante no quadro do progresso tecnológico e proporcionam sua entrada no mercado de trabalho. Circunscrevendo-se nesse contexto, neste texto pretende-se investigar o espaço em que o ensino da Filosofia se desenvolve na atualidade. Delineando os contornos de um problema que emerge nos espaços institucionais universitários onde o ensino da Filosofia ainda persiste, procurou-se evidenciar em que bases a Filosofia é ensinada. Procurou-se, ainda, compreender quais consequências os modos de compreender o ensino da Filosofia trazem para o aprendizado do filosofar. Uma consideração a que se pode chegar, a partir deste estudo, é a de que o ensino da Filosofia além de não privilegiar, e muitas vezes negar, a experiência de pensamento que o aluno pode fazer e ter com o texto filosófico, contribui para o empobrecimento dessa mesma experiência do e com o filosofar.

Indo além da Natureza da Ciência: o filosofar sobre a Química por meio da ética química

“…A partir da caracterização do público-alvo, seu ensino adquire um estatuto distinto e se reconfigura, a partir e por meio da Filosofia, para propiciar que cidadãos e cidadãs pensem por conta própria. A finalidade do ensino de Filosofia é tornar os estudantes aptos a enunciar, reconhecer e resolver problemas não contemplados em sala de aula, sendo, assim, seus problemas, tendo em vista que não foram fornecidos pela escola ou pelo professor (Gelamo, 2010;Matos & Medeiros, 2015;Rodrigo, 2007Rodrigo, , 2009. O pensar por conta própria é expressão do ideal de autonomia almejado pela educação.…”

“…A caracterização, modos de proceder e posturas da Filosofia têm consequências em relação ao que ensinar e como ensinar. Nota-se um consenso sobre a necessidade do ensino de Filosofia contemplar o trânsito entre o par dialético ensinar a Filosofia e ensinar a filosofar (Alves, 2013;Cerletti & Kohan, 1999;Danelon, 2010;Dias, 2009;Gallo, 2007Gallo, , 2010Gelamo, 2010;Goto, 2007Goto, , 2009Murcho, 2008;Palacios, 2007;Pereira et al, 2014;Pimentel & Monteiro, 2010;Ramalho & Lima, 2015;Ramos, 2007;Rodrigo, 2007;Severino, 2009;Zuben, 1992) 99 .…”

“…O papel do estudante se restringe a assimilar e comunicar o que os filósofos pensaram, de acordo com o texto do próprio filósofo ou a explicação do professor. A experiência com a Filosofia é condicionada pelo filósofo estudado e pelo professor, não permitindo a incerteza, ambiguidade e diferença na forma de pensar dos estudantes, o que inclui, muitas vezes, a rejeição imediata de suas ideias que entrem em conflito com a interpretação pretendida pelo professor (Gelamo, 2010;Murcho, 2008;Palacios, 2007).…”

“…O que se defende é uma experiência filosófica genuína para o estudante, na qual ele constrói seus próprios significantes a partir de sua experiência, os quais não necessariamente devem ser os do texto filosófico ou os projetados pelo professor (Gelamo, 2010). Para esse fim, desloca-se a experiência do mundo possível apenas sob o aval do filósofo ou do professor, que delimita os problemas e soluções legítimas, em direção à experiência de um problema que afeta o estudante.…”