Trabalho dedicado à minha mãe e à minha irmã, Sandra e Natalia, e a meus avós, Diva e Carlos brasileira, dois contra o mundo, mãe solteira de um promissor (Racionais ) Nas histórias que conto, por prazer ou ofício, não cabem grandes batalhas, feitos extraordinários, líderes políticos, gênios da humanidade, efemérides da pátria e similares. Esclareço, portanto, para abrir a gira. Acontece que não me sinto confortável nos jantares requintados, dentro de ternos bem cortados, nos salões da academia ou nos templos suntuosos. Como diz um velho ponto de encantaria, para chamar os outra é menor, a miudinha é a que nos alumeia / maravilhado pelas pedrinhas miudinhas, nelas me vejo e delas faço meu pertencimento.
Luiz Antônio SimasAgradeço primeiro às mulheres da Rua, a todas elas, mas principalmente às mais desobedientes, às sujas, que fogem dos abrigos, que desobedecem aos protocolos e não tomam anticoncepcional, às que burlam as medicações.Agradeço às mulheres que ficam histéricas quando veem a polícia e gritam, às mulheres que ficam nas esquinas e sabem sobre prazer.Agradeço àquelas mulheres da Rua que me mostraram que a angústia não é uma abstração quando se trata de te arrancarem um(a) filho(a). É uma dor palpável que tem peso, cheiro, forma, rosto e sabor.Agradeço às mulheres que muitos se recusam a chamar de mulher e permanecem cotidianamente, existindo mulher, ensinando a todas nós que só é possível resistir no corpo.Agradeço às mulheres aborteiras, que rasgam a norma do imperativo de maternidade.Agradeço às mulheres que são mãe de Rua e, mostram que é muito pequena nossa ideia do que é família e de como devemos cuidar umas das outras.Agradeço às mulheres que vi gestando e cuidando de suas filhas(os) na Rua e nos ensinam que mentir muitas vezes é sobreviver, quando as instituições só te percebem como risco.Agradeço às mulheres que fugiram de casa e me mostraram a pequenez do que sei sobre violência, as que foram para a Rua para estar seguras.Agradeço às mulheres marginais, clandestinas, que não se submetem ao medo.Agradeço às múltiplas mulheres que me produzem, girando em multiplicidades.Agradeço em especial à linha de pesquisa Conexões, onde foi possível gestar os achados e novas perguntas que aqui seguem, ao Consultório na Rua de Campinas que me recebeu e se fez porta para mundos outros, à produtora Laboratório Cisco que me guiou por campos de pesquisa a partir de outras lentes.O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001.Este trabalho busca tecer considerações acerca dos modos de subjetivação das mulheres viventes na Rua, pensando em sua emergência a partir da vivência de cartografar em três distintos campos de pesquisa, todos atravessados pela transversalidade da Rua, também valoriza os modos de subjetivação da pesquisadora a partir dessa experiência interferência.Junto a alguns conceitos ferramentas que partem prioritariamente da militância, da teoria feminista e também do pós-estruturalismo, e neles os ...