Narrativas de mulheres em psicoterapia na pandemia de COVID-19: vidas precarizadas pelas desigualdades de gênero, de classe e étnico-raciais

Abstract

Já é sabido que a pandemia da COVID-19 intensificou as dificuldades e vulnerabilidades já enfrentadas antes pelas mulheres, seja pelo aumento das desigualdades de gênero no ambiente doméstico, violências, precarização e o desemprego. A partir da visão da interseccionalidade, as desigualdades de gênero, racial e social se entrecruzam, sendo as mais atingidas num contexto de emergência como a da pandemia, as mulheres negras e mais pobres. A pandemia trouxe ainda, uma série de desafios relacionados à prestação do cuidado, trabalho este socialmente imposto às mulheres, tendo em vista a sociedade patriarcal que estamos inseridos. Essa crise pode ser constatada em diversos contextos, sendo que nos lares brasileiros, havia quase sempre uma mulher cuidando de alguém, seja um doente, um idoso ou uma criança. Este artigo traz alguns estudos de casos proveniente de pesquisa de programa de Mestrado Profissional, na abordagem qualitativa a partir de narrativas. O objetivo deste artigo é apresentar os problemas causados pela pandemia na vida de mulheres, sob um ponto de vista crítico dialético, que culminou num sofrimento de saúde mental. Tais narrativas deixam evidentes que a exploração do cuidado e sobrecarga de tarefas somadas à falta de apoio dos seus cônjuges, à precarização no trabalho remunerado, observado a partir da falta de garantia de direitos pelos empregadores, dá origem ao sofrimento emocional e à solidão. Visibilizar essas memórias, trazendo discussão sobre as reverberações da Covid 19 na vida dessas mulheres, contribuirá para aprimorar cuidados que promovam maior justiça de gênero e uma clínica que considere os fatores psicossociais, além dos fatores individuais.