“Minha Casa, Minha Vida”: experts, sentidos de classe e a invenção do “mercado” da casa própria no Brasil contemporâneo

Abstract

Resumo Casas são materialidades centrais na elaboração de imaginários e políticas de ascensão social. Baseando-me em etnografia conduzida entre arquitetos, economistas e planejadores, examino os dispositivos que “performam” o mercado da casa própria no Brasil contemporâneo e suas operações de adequação a perfis de renda, classe social e aspiração cultural. Demonstro como a reconfiguração de empresas imobiliárias a partir do maior programa habitacional do país – o Minha Casa, Minha Vida – terminou por inventar um “mercado” emergente que conecta cidadania, consumo e moralidades de “classe média”. Nesse processo, ao qualificarem territórios, atributos, técnicas, padrões construtivos e design arquitetônico, experts fabricam materialidades políticas e sedimentam cartografias induzidas, engajando-se ativamente em processos de valorização e precificação que reinventam o território urbano das grandes cidades brasileiras.

Querer permanecer: preferencias residenciales de habitantes antiguos de una zona de renovación urbana

“…Estas experiencias residenciales tienen un componente simbólico, relacionado con los valores asociados a la vivienda. La antropología de la vivienda ha mostrado cómo una vivienda puede tener distintos significados para distintas personas en distintos momentos de sus trayectorias residenciales -como refugio, como mercancía, como expresión de la identidad personal (Birdwell-Pheasant y Lawrence-Zúñiga, 1999; Clarke, 2001;Douglas, 1991;Hartman, 2021;Kopper, 2016;Wilk, 1989)-. En un contexto de cambio residencial, las personas añaden o restan valor a diferentes aspectos de sus viviendas y entornos según lo que estas signifiquen para ellas.…”

The Politics of Differentiation and the Co‐Production of the “Model Periphery” in Brazil’s Public Housing

“…Between 1940 and 1980, it grew into a receptacle for rural and informal migration. Today, formal land in the neighborhood’s modernized and urbanized sectors is scarce and mostly under the control of real estate developers—a reoccurring reality that pushes MCMV projects to remote peripheral space with precarious urban infrastructure (Cardoso and Lago 2013; Kopper 2016; Bonduki 2009; Cardoso et al 2017). Thus, it came as a welcome surprise when the municipality announced the construction of Residencial Bento Gonçalves in Partenon’s prime real estate market, promising to work alongside grassroots movements to address the region’s historically high housing deficit.…”

Programa minha casa minha vida e produção do espaço urbano em Marabá (PA)

“…Sob as determinações para as construtoras no momento da execução de um empreendimento a CEF exigia a construção de quadra poliesportiva, salão de festas dimensionado por meio metro quadrado por unidade habitacional, playground, além de locais específicos destinados à convivência, ressoa a ideia de que providenciar o acesso à moradia implica produzir "inclusão social", isto é, uma certa estética civilizatória de como viver em condomínio e de quais modelos familiares deverão ser priorizados na ocupação do espaço construído (KOPPER, 2016).…”

“…Nessa perspectiva, Kopper (2016) assinala que o PMCMV atua no cenário dos reassentamentos e regularizações de ocupações ilegais de terra, mediante a execução de parcerias público-privadas com agentes de mercado. Ele coloca em jogo um modelo de governo da pobreza, que se fundamenta na efetivação de intervenções espaciais que assumem caráter de seletividade e difusão, nesse sentido, tem-se o deslocamento da execução no âmbito da instância federal do Governo para as unidades locais, mediado pela capacidade de iniciativa de empresas privadas em desenhar e atender as necessidades de um beneficiárioconsumidor de baixa renda.…”

“…Considerando essa realidade, tem-se na metragem quadrada e nos arranjos limitados de uma arquitetura repetida das plantas, as demonstrações de uma materialidade política que busca reinscrever práticas de sociabilidade no e através do espaço construído. Além disso, a implantação dos empreendimentos, em diferentes lugares, contribuiu para a composição de zonas que ligam os discursos das políticas públicas e os argumentos em torno da superação da pobreza (KOPPER, 2016).…”