IntroduçãoEste artigo contrapõe-se ao foco da literatura brasileira de estudos urbanos desenvolvida principalmente nas décadas de 1960 e 1970, a qual se preocupou especialmente com a análise dos diversos mecanismos que contribuíam para a configuração de espaços segregados, no contexto de discussões mais amplas a respeito do modelo de desenvolvimento capitalista brasileiro (Santos, 1979; Smolka, 1992;Bonduki e Rolnik, 1982). Ao invés de discutir os processos de formação dos espaços periféricos e as causas da segregação residencial, pretende-se analisar possíveis conseqüências da segregação do ponto de vista do acesso dos mais pobres a serviços urbanos.Segregação residencial é um tema que está longe ser consensual, tanto em termos conceituais quanto dos grupos sociais que devem ser privilegiados na análise, assim como dos mecanismos que estão na causa do fenômeno ou suas principais conseqüências. Diversos autores a associam à falta de acesso a serviços essenciais e a políticas públicas (Camargo et al., 1976;Kowarick, 1979). Outros associam a segregação ao processo de formação das áreas periféricas nas principais metrópoles brasileiras (Santos e Bronstein, 1978;Santos, 1979; Vetter e Massena, 1981;Bonduki e Rolnik, 1982;Villaça, 2000). Muitos destacam a relevância da concentração espacial de certos grupos sociais na definição do fenômeno da segregação (Villaça, 2000;Marques e Torres, 2005), divergindo, entretanto, quanto aos grupos sociais que devem ser analisados e, sobretudo, quanto aos mecanismos que geram essas distribuições espaciais.A literatura internacional também apresenta diversas formas de abordagem da questão. A segregação RBCS Vol.