Entende-se por medicalização o processo pelo qual situações cotidianas são individualizadas e transformadas em problemas médicos. O ensino superior tem sido alvo de práticas medicalizantes, principalmente em relação ao Transtorno de Déficit de Atenção com/sem Hiperatividade (TDA/H) e dislexia, uma vez que não existe um consenso sobre a existência destes supostos transtornos. Desta forma, esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar os laudos de dislexia e TDA/H utilizados para o ingresso no ensino superior a partir das contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Neste estudo, foi realizado um levantamento dos laudos nos anos de 2003 a 2016 apresentados por candidatos junto ao setor responsável pelos processos seletivos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Foram elencados 809 requerimentos, em que 96 candidatos tinham laudos de dislexia e/ou TDA/H, sendo 42 do sexo feminino e 54 do masculino, 34 destes com intenção para o curso de medicina. O número de requerimentos aumentou de 2003 para 2016, assim como o uso de medicamentos, sendo que 32 candidatos comprovam o uso do composto cloridrato de metilfenidato. Neste sentido, perguntamo-nos se os diagnósticos e fármacos têm sido utilizados para facilitar o ingresso ao ensino superior. Além disso, é imprescindível que o atendimento especial a candidatos com laudos de dislexia e TDA/H seja repensado e tais pseudodiagnósticos desconstruídos, uma vez que culminam na proliferação de laudos, aumento do consumo de fármacos e, consequentemente, contribuem para o processo de medicalização da vida.