Em entrevista com Lévi-Strauss realizada em 1998, Beatriz Perrone-Moisés lhe pergunta sobre as fichas como instrumento de trabalho.
B. P.-M.:Falemos então sobre os seus modos de fazer antropologia ou, mais precisamente, análises de mitos. O senhor mencionou algumas vezes que trabalhava com fichas e, ao longo da elaboração das Mitológicas, as espalhava às vezes sobre a mesa, onde elas de certo modo assumiam configurações que lhe revelavam relações. Como são essas "fichas de mitos"? Posso ver algumas?L.-S.: Eu não trabalhava exatamente com fichas de mitos, esse é meu modo de trabalhar em geral. Faço muitas fichas. Meus ficheiros estão em casa, não tenho nenhuma ficha aqui… Mas não há nada de especial em minhas fichas. Algumas contêm referências, outras uma ou várias frases que li num livro e que chamaram minha atenção, ou uma idéia que tive e transcrevi numa ficha. Podem ser acerca de mitos, ou de livros, podem ser acerca de um objeto que vi, ou de uma idéia que me ocorreu. Em relação aos mitos, podem conter versões completas, às vezes há páginas dobradas no formato de uma ficha, colocadas nos ficheiros, às vezes são resumos... Nada de organizado. Quando me falta inspiração, quando estou sem idéias, pego um monte de fichas -eu deveria colocar isso no imperfeito, porque se refere ao tempo em que eu trabalhava -e, só de espalhá-las, misturá-las, agrupá-las ao acaso, às vezes me vem uma idéia.
B. P.-M.:Não se pode então falar num método de fazer fichas, ou de utilizá-las… L.-S.: Não, nenhum. Ao contrário, eu diria que as fichas, para mim, são exatamente o oposto de um método, são o meio de ter idéias imprevistas.