Este trabalho reúne duas pesquisas feitas entre os Mẽbêngôkre, povo jê mais conhecido como Kayapó e habitante da bacia do Xingu. Realizadas em dois subgrupos distintos, no Pará (TI Kayapó) e no Mato Grosso (TI Capoto/Jarina), as etnografias aqui trabalhadas voltam atenção para a territorialidade mẽbêngôkre, explorando as andanças e a produção de redes de lugares-eventos nomeados, intimamente ligadas à organização sociopolítica desse povo. Os deslocamentos ainda são pouco explorados na literatura antropológica sobre os Mẽbêngôkre, apesar de constituírem tema praticamente onipresente nas narrativas dos anciãos. Partimos das enunciações toponímicas nesses relatos para observarmos a dinâmica da produção de lugares e sua relação com as separações históricas dos subgrupos mẽbêngôkre; onde também estão em jogo práticas estatais, como a demarcação das terras e o estabelecimento de limites estaduais, que, embora contrastando com a territorialidade mẽbêngôkre, acabam por fornecer um idioma para as relações políticas entre os diferentes subgrupos.