José de Albuquerque, o esquecível: método histórico e o pioneirismo na educação sexual no Brasil

Abstract

Durante os últimos vinte anos, o trabalho do médico José de Albuquerque frente ao Círculo Brasileiro de Educação Sexual nos anos 1930 e 40 vem sendo festejado, em grande número de trabalhos acadêmicos, como exemplo de cientificidade e racionalismo na difusão de suas ideias sobre educação sexual. Comparando-se as afirmações de Albuquerque a outras fontes históricas do período, objetiva-se demonstrar que muitos dos fundamentos que sustentaram a argumentação, nestes trabalhos, sobre a difusão das ideias de Albuquerque, são fundados em premissas que não correspondem às evidências históricas; e que, por sua vez, tais premissas foram resultado da negligência a princípios fundamentais do método histórico. O trabalho conclui discutindo a real dimensão da influência das ideias de Albuquerque no período.

O Jornal Rio Negrenser Zeitung (1910-1942) e a educação sexual retratada em branco e preto

“…Fontoura, alega que os artigos e as matérias de Albuquerque não reverberaram na sociedade por serem esquecíveis. (FONTOURA, 2018).…”

Narrativas docentes de educação sexual em perspectivas geracionais

“…Orientado por enfoques higienistas e eugênicos, o debate acerca do ensino da sexualidade se institucionaliza e se intensifica nas primeiras décadas do século XX, carregado de visões religiosas que condenavam as manifestações corporais vistas como libidinosas em festas populares, como o Carnaval, e em outras manifestações associadas aos corpos negros. Essa institucionalização da educação sexual, ou o que Oliveira (2012, p. 508) reconhece como "os primeiros esboços de um programa de educação sexual no Brasil", foi protagonizada pelo Círculo Brasileiro de Educação Sexual (CBES), fundado em 1933 (FELÍCIO, 2012;OLIVEIRA, 2012;FONTOURA, 2018). Por duas décadas essa entidade foi responsável pela publicação de livros, pelo oferecimento de palestras e pela organização de eventos científicos e pela criação e publicação do Boletim de Educação Sexual, periódico com artigos dos mais eminentes sexólogos da época (CÉSAR, 2009).…”

Educação sexual no rincão nacional

“…Considerando a gratuidade de todas as atividades propostas pelo CBES, tais como o Boletim e o Posto de Conselhos Sexuais, e que se tratava de uma entidade filantrópica, indagamos sobre quem arcava com os custos dessas atividades. Fontoura (2018) afirma que o CBES não possuía estrutura física, de pessoal ou financeira para arcar com os custos de tiragem e distribuição do seu material de campanha. Ele cita 5 Trata-se, como afirmou o médico Albuquerque posteriormente a respeito do Boletim, de um jornal em formato tabloide, com oito páginas e tiragem média de cem mil exemplares por edição, impresso em papel linha d'água e submetido a todas as exigências que as leis e regulamentos impunham para a circulação dos grandes órgãos da imprensa, inclusive a famigerada censura do DIP (Albuquerque, 1958) Leonardo Malcher (2007, p. 131-132), que por sua vez afirma que "[...] havia uma relação com colaboradores, filiados que de certa forma deviam contribuir com as iniciativas do Círculo" 6 .…”