A acromegalia é uma doença insidiosa e rara, associada a uma alta taxa de mortalidade, que decorre da hiperprodução autônoma patológica do hormônio do crescimento (GH) e subsequente aumento dos níveis do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1). A hipersecreção crônica desses hormônios causa diversas alterações metabólicas, dentre eles podemos destacar a lipólise, os processos ateroscleróticos, a hiperinsulinemia, a gliconeogênese e a resistência periférica à insulina. Essas alterações no metabolismo lipídico e glicêmico estão relacionadas a um risco aumentado de eventos cardiovasculares nos pacientes acromegálicos, sendo hoje a segunda causa mais comum de mortalidade desses pacientes. Em virtude disso, é necessário avaliar se o controle da doença corresponde, também, a um melhor controle metabólico desses pacientes, resultando em um menor risco cardiovascular e menor taxa de mortalidade. Avaliar a influência dos níveis de IGF-1 no perfil lipídico e glicêmico de pacientes acromegálicos atendidos em um Centro de Especialidades Médicas. Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal e descritivo, com base em análise exploratória dos prontuários de um Serviço de Endocrinologia do Centro de Especialidades Médica no Pará no período de agosto de 2019 a junho de 2020. Ao comparar a atividade da acromegalia na primeira e na última consulta, verificou-se que houve um aumento no controle da doença, de 22,2% para 71,1%. Quanto ao perfil glicêmico, a glicemia dos pacientes acromegálicos diabéticos foi estatisticamente superior aos dos não diabéticos, tanto na primeira avaliação (Média ± DP: 135,8 ± 59,4 vs 95,1 ± 15,2; P<0,001), quanto na última (Média ± DP: 98,6 ± 13,2 vs 84,0 ± 11,1; P<0,001). Ao observarmos os pacientes acromegálicos diabéticos, houve uma diminuição significativa dos níveis de IGF-1 (média± DP: 480,9 ± 250,5 vs 189,5 ± 91,5, P< 0,001) e de IGF-1 pelo LSN (média± DP: 1,8 ± 1,0 vs 1,0 ± 0,6, P< 0,001), ao se comparar as duas avaliações. Foi possível observar, comparando os parâmetros laboratoriais entre a primeira e última avaliação, que na acromegalia não controlada ao final (n=13), houve uma diminuição dos níveis de colesterol total (Média ± DP: 179,3 ± 30,0 vs 155,9 ± 28,8; P=0,018) e, aumento significativo do HDL (Média ± DP: 46,8 ± 14,3 vs 53,3 ± 7,9; P=0,048). Já para os pacientes com acromegalia controlada ao final (n=32), houve aumento significativo no nível de HDL (Média ± DP: 46,3 ± 26,0 vs 58,0 ± 24,2; P=0,003) e diminuição dos níveis de IGF-1, GH, colesterol total, LDL e TG. Esses resultados sugerem que a maioria dos acromegálicos em estudo tiveram o controle da doença a partir da redução dos níveis de IGF-1, evidenciando sucesso na conduta terapêutica destes. Concomitantemente, a maioria obteve, também, melhora nos níveis de glicose, hemoglobina glicada, colesterol total e HDL. Isso sugere que o controle da atividade da doença é uma das intervenções mais importantes para a redução do risco cardiovascular nesses pacientes.