INTRODUÇÃOO termo Patrimônio Histórico e Cultural refere-se ao conjunto de bens móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis, que caracterizam uma população. Representa, portanto, um conjunto único e insubstituível de valores e desempenha papel essencial na autodeterminação dos povos.1 A preservação desse Patrimônio é, assim, essencial para que a identidade cultural de uma dada população possa ser transmitida para gerações futuras.A Ciência da Conservação surge como consequência da necessidade de adoção de metodologias científicas na definição de estratégias de conservação e também de prevenção à degradação do Patrimônio Cultural. Especificamente no caso da Conservação Preventiva, a compreensão dos aspectos químicos das variadas substâncias empregadas, como a interação entre elas e mecanismos envolvidos em sua degradação, é absolutamente essencial.Um desdobramento dessa atuação é a investigação de obras de arte e documentos em geral com o objetivo de esclarecer algum questionamento legal, como autenticidade, por exemplo. Estima-se que cerca de 20% das obras de arte que circulam nos principais centros do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) sejam falsas 2 e a própria Interpol, reconhecendo que a violação de propriedade intelectual é uma atividade altamente lucrativa e de baixo risco, criou um Programa de Direitos de Propriedade Intelectual (IPRP) visando coibir essa prática por parte do crime organizado e no financiamento de organizações terroristas.3 Nesse contexto, fica clara a necessidade de formas de análise mais acuradas que dêem suporte às apreciações geralmente subjetivas de especialistas em arte para a certificação de tais obras. A principal condição que se impõe ao tipo de análise a ser feita é que seja uma metodologia não destrutiva, uma vez que qualquer forma de amostragem afetará de modo irreversível a obra, a qual geralmente tem elevado valor comercial e/ou representa uma peça única, sem possibilidade de reposição. Tendo em conta essa restrição, as duas ferramentas que mais vem sendo empregadas na investigação de bens culturais são a fluorescência de raios X (XRF) e a espectroscopia Raman. A primeira fornece a composição elementar de determinada área do objeto estudado, mas não revela a identidade das substâncias presentes, o que pode ser feito de modo inequívoco através da espectroscopia Raman. Nesse caso, um feixe de radiação laser de baixa potência é focalizado em um ponto de interesse no objeto e a radiação inelasticamente espalhada é coletada por uma lente e analisada em um monocromador ou interferômetro, fornecendo um espectro que é característico da espécie química ou das espécies químicas presentes. Quando acoplada a um microscópio, a espectroscopia Raman ganha ainda a vantagem de ter resolução espacial capaz de diferenciar micro-heterogeneidades presentes na amostra. Maiores detalhes sobre a técnica fogem ao escopo deste texto, mas podem ser encontradas na bibliografia citada.