RESUMOEste estudo objetivou analisar as potencialidades e os desafios da atenção domiciliar a partir da perspectiva de gestores e coordenadores destes serviços no Sistema Único de Saúde, em municípios do estado de Minas Gerais. Estudo de abordagem qualitativa ancorado no referencial teórico-metodológico da dialética. As entrevistas foram realizadas com cinco gestores e dezessete coordenadores de dezesseis municípios, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Após transcrição, o conteúdo do material foi analisado seguindo orientações de Bardin (2011). A análise dos dados proporcionou a identificação de duas categorias temáticas que expõem dois aspectos no que se relacionam às potencialidades e desafios da atenção domiciliar: (1) O reducionismo da gestão da atenção domiciliar à oferta de insumos materiais: desafios do pensar e divergências no fazer. (2) A atenção domiciliar e sua (des) conexão com a rede de atenção à saúde. Os resultados do estudo demonstram que os gestores de saúde dos municípios estudados ainda têm superficial conhecimento sobre as potencialidades da atenção domiciliar, embora demonstrarem conhecimento quanto às políticas implementadas pelo Governo Federal.
INTRODUÇÃODiversos países estão repensando seu modelo de atenção à saúde, assim como as possibilidades de cuidados ofertados, considerando as mudanças decorrentes da transição demográfica e epidemiológica, haja vista o crescente envelhecimento populacional e preponderância de condições crônicas de saúde (1) . Dois grandes eixos impelem esta mudança, um econômico, que trata da viabilidade e sustentabilidade do sistema e outro de qualificação assistencial, que tem buscado ações resolutivas e promotoras da integralidade do cuidado (2) . Neste contexto a Atenção Domiciliar -AD desponta como uma modalidade de atenção com potencial para qualificação do cuidado, devido à sua característica inovadora e produtora de integralidade e por otimizar a utilização de recursos, colocando um contraponto ao modelo de saúde reducionista, fragmentado, centrado em procedimentos, que onera o sistema pela baixa resolutividade e custos crescentes (2,3) . A AD pode ser entendida como um dispositivo organizacional e assistencial que propicia a materialização de uma nova forma de se produzir o cuidado e a intervenção em diferentes locais da Rede de Atenção à Saúde, partindo do princípio de que o cuidado será nesta perspectiva, centrado no usuário e em suas necessidades (4) . Em consequência, observa-se a expansão dos serviços de Atenção Domiciliar no Brasil, a partir da década de 90 e em conjunto a emergência da necessidade de regulamentação do funcionamento e a proposição de políticas públicas que regulem a oferta destes serviços (2) . Em 2011, a AD foi instituída no SUS de forma sistêmica, por meio do programa Melhor em Casa, que possui como premissas a integração desta modalidade aos demais pontos de atenção e a vinculação da AD à estratégia das redes de atenção