A saúde coletiva nasce no Brasil com a entrada das ciências sociais no campo da saúde pública. A tese de Arouca "O dilema preventivista" (1975) foi pioneira ao aproximar as teorias de Foucault do campo de uma saúde pública higienista, vigilante, vertical, que sempre sabia quando e o quê prescrever. Em uma definição ampla, poderíamos dizer que a saúde coletiva se ocupa da saúde das populações e grupos sociais, estudando a distribuição de agravos e doenças, as estratégias para extensão da cobertura e da qualidade da assistência à saúde, e buscando desenvolver medidas para a prevenção e promoção da saúde. Disciplinarmente falando, nunca nos vimos livres dessa tensão constitutiva do campo: entre a prescrição tecnocrata e a omissão pós-moderna, donde poderíamos situar nossas contribuições? O advento do Sistema Único de Saúde (SUS)-e sua extensão capilar a quase todas as comunidades no Brasil-permitiu que demandas variadas fossem encaminhadas ao setor saúde (simplesmente porque-às vezes-não há outra instituição representante do Estado). Assim, o sofrimento da pobreza, da violência, do racismo e do machismo comparecem em quantidade aos serviços públicos de saúde sem que possamos negligenciá-los. Ao mesmo tempo, os serviços encontram-se sobrecarregados, faltos de recursos materiais e com pessoal 1 Este trabalho foi apresentado na mesa "O psicanalista e a saúde coletiva " com Silvia Maia Bracco no eixo "Psicanálise e suas clinicas" no I Simpósio Bienal "O mesmo, o outro: Psicanálise em movimento" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. 2 Médica, psicanalista, supervisora clínico-institucional, coordenadora da residência multiprofissional em Saúde Coletiva e Saúde Mental, professora do Departamento de Saúde Coletiva da faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.