1 Professor Colaborador (PNPD/CA-PES) do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga, 6681, Porto Alegre, RS, Brasil. Resumo: O artigo apresenta a correlação existente entre as narrativas mitológicas indígenas e as práticas rituais realizadas no cotidiano dos grupos do Chaco. A partir da análise de fragmentos de mitos coletados por missionários do século XVIII e das narrativas mitológicas de grupos chaquenhos contemporâneos, demonstro como os rituais de iniciação, as interdições alimentares e os resguardos cerimoniais eram práticas adotadas por índios e índias como forma de elaborar ações que, ao reviverem certos eventos mitológicos, criavam maneiras de integração entre os membros do grupo e meios de prevenir possíveis infortúnios que os mitos já haviam narrado.Palavras-chave: história indígena, Chaco, mitologia, rituais de iniciação, mulheres.Abstract: This paper presents the correlation between the Indians' mythological narratives and ritual practices carried out in the daily life of the Chaco groups. Based on the analysis of myth fragments collected by 18 th century missionaries and mythological narratives of contemporary Chaco groups, the article demonstrates how the initiation rituals, food taboos and ceremonial isolation were practices adopted by Indians as a way to design actions that, by reviving certain mythological events, created ways of integration among the groups members and means to prevent possible mishaps that myths had already narrated.Keywords: indigenous history, Chaco, mythology, initiation rites, women.Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Mas eles não eram princípios, e sim ritos, sagrados demais para serem explicados, sagrados demais até para serem defendidos: eram simplesmente a maneira pela qual as coisas tinham que ser feitas, deveriam ser feitas (Eleanor Catton, "Os luminares").
IntroduçãoOs relatos produzidos pelos hispanocrioulos a respeito dos grupos indígenas do Chaco, desde os primeiros contatos, eram unânimes em ressaltar o quão perigoso podia ser uma aproximação com os nativos, fosse com intenções comerciais, catequéticas ou por interesse diplomático. Justificava-se tamanho receio por aquilo que foi descrito por cronistas e missionários como uma conduta inconstante com que os chaquenhos mantinham suas relações de aliança