A trajetória do autismo é marcada por avanços significativos no entendimento deste transtorno, além de mudanças de paradigmas na avaliação psicopatológica dessa síndrome. Historicamente o autismo esteve frequentemente associado com transtornos psicóticos (principalmente com a esquizofrenia). Apesar dos avanços obtidos ao longo dos anos, persistem similaridades nas manifestações clínicas dos quadros de autismo e psicoses. Nas últimas décadas, os estudos epidemiológicos sugerem um nível moderado de comorbidade entre TEA e transtornos psicóticos. Apesar disso, as séries de casos na literatura científica em que é descrito a avaliação e acompanhamento destes pacientes demonstram que a comorbidade é rara e dentro do padrão esperado da população. O intuito principal é analisar dois casos clínicos, suas manifestações psicopatológicas e o desenvolvimento dos pacientes atendidos em um CAPSi de Brasília para que possam ser ofertadas orientações e conhecimentos em saúde mental, trazendo percepções sobre a importância da psicopatologia no diagnóstico desses dois transtornos. Nestes dois relatos de caso destacamos o desafio clínico que surgiu durante o atendimento destes pacientes. Embora a prevalência global de psicose comórbida no TEA pareça baixa, é menos claro com que frequência o rótulo está sendo bem aplicado, sem a devida avaliação psicopatológica apurada. A avaliação psicopatológica e a fenomenologia são elementos fundamentais na prática psiquiátrica e devem ser trazidas de volta ao foco dos profissionais, especialmente considerando o aumento dos diagnósticos categóricos e comportamentais que temos observado nos últimos anos. A compreensão profunda da psicopatologia é essencial para garantir diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.