Resumo Este artigo analisa a religiosidade de um marinheiro escravo seiscentista, Pedro João, preso pela inquisição portuguesa. Forçado a professar a fé dos seus senhores, Pedro João passou do catolicismo (no qual foi batizado e crismado em Olinda, sua cidade natal) para o protestantismo ao ser aprisionado em alto-mar por um corsário inglês, em 1629. Levado à Vila de Plymouth e depois à Millbrook, lá se casou com uma mulher protestante e teve um filho. Em 1637, ao aportar em Lisboa a bordo do navio em que trabalhava, Pedro João foi preso pela inquisição. Questionado pelos inquisidores em matéria de fé, Pedro João nos legou elementos para sondar o seu protestantismo, de cunho calvinista-zwingliano, embora convivesse com reminiscências católicas. Procuramos demonstrar que nosso personagem, uma figura atlântica, nasceu católico na América portuguesa e teve sua alma “pescada” no Atlântico pelo protestantismo inglês, vivenciando na pele as agruras dos conflitos religiosos que marcaram a chamada primeira modernidade europeia.