"Ra i mã Jàt hĩrõt!: Batata já brotou para mim!"O comentário das mulheres krahô pode ser etnográfica e analiticamente desdobrado. Batata não nasce simplesmente, ela brota e dá "para alguém". Antes escondidas embaixo da terra, as cabeças da Batata se tornam visíveis para a mulher se esta é vista como uma boa mãe, cuidadosa e generosa. Do contrário, a Batata não dá nada, se muda para a roça de outro e pode se vingar com doenças. Dotada de conhecimentos xamânicos e rituais, a Batata também tem toras, cantos e danças que foram apropriados pelos mẽhĩ antigos no tempo do mito."Se onde houver relação, ela existe para mim" (Lima 2005:88), nós nos deparamos então com a impossibilidade de haver espectadores absolutos e fora de contexto, de sujeitos e objetos pré-constituídos, de entidades e substâncias essencializadas. A partir destas colocações, o presente artigo aborda as relações cotidianas e rituais entre humanos e plantas por meio da etnografia do ciclo de vida da batata-doce cultivada pelos Krahô, recuperando temas centrais desenvolvidos na literatura dos povos Jê.