(1972) sobre os legados que uma geração deixa a outra e que são guias imprescindíveis para que cada uma seja capaz de posicionar-se no presente como sujeito da História. Para tanto, segundo ela, é necessário que as gerações sejam capazes de nomear suas realizações, seus feitos, dar sentido a eles e, assim, poder ofertá-los àqueles que chegam ao mundo.Colocamo-nos nessa tarefa de nomear alguns feitos e apresentar seus sentidos e direções, no entanto, sem pretender ser intérprete de uma geração ou de um tempo, mas tão somente como portadora de uma razoável experiência de trabalho com a terceira idade que julgamos oportuna comunicar a outros.Uma tarefa aparentemente simples, quando encarada como uma descrição do se fez, se disse e se ouviu, mas deveras complexa, quando se coloca o desafi o de expressar seus sentidos e não o feito em si. São muitas as incertezas e dilemas quando se pretende fazer um inventário que não apenas indique o que se quer deixar como efeito 8 MARIELE RODRIGUES CORREA de um trabalho, mas que o se selecionou e que valores se atribuíram, a fi m de apreciar e analisar criticamente o que foi construído.Primeiro, o ato de apresentar e inventariar todo um percurso de realizações quase nunca permite resgatar tudo que se fez, afi nal, nem tudo possui um registro e, nesse sentido, tratam-se de realizações sem testamento, eventualmente perdidas na memória. Segundo, daquilo que está presente na memória, é difícil escolher aquilo que pode ser inventariado como um cristal de tempo e que valha a pena ser passado adiante. Tal escolha exige um exame crítico e uma refl exão cuja principal difi culdade é, exatamente, vislumbrar ou atribuir sentidos às diversas realizações, sentidos esses que não se refi ram apenas às idiossincrasias de quem os realizou, mas que sejam capazes de conectar-se com aspirações e desejos coletivos.Nesses quase cinco anos de convívio com o grupo de idosos, são muitas as histórias que vivenciamos e permaneceram, suscitando pensamentos e inquietações que nos levaram a analisar a relação do homem com a fi nitude e o envelhecimento, esse rosto perdido no espelho do narcisismo contemporâneo que preza por um ideal de beleza baseado na juventude. Foi uma experiência profunda e enriquecedora, não somente para as questões curriculares e profi ssionais.As refl exões realizadas neste livro advêm do contato com a terceira idade propiciado pelas ofi cinas de psicologia oferecidas dentro da programação da Universidade Aberta à Terceira Idade da Unesp, campus de Assis. No início, a participação em tais ofi cinas foi como estagiária da graduação e, posteriormente, como coordenadora do grupo.Quando passamos a atuar nessas ofi cinas, elas já existiam há um bom tempo, pelo menos outros cinco anos antes de nossa chegada. Portanto, herdamos um legado construído por gerações anteriores de estagiários e por muitos participantes que ali passaram. Prosseguimos uma tradição já criada, um grupo formado, com algumas pessoas que foram seus fundadores e tantas outras que estavam nele havia bastante tempo. Um gru...