Como a contemporaneidade trouxe inúmeras continuidades e descontinuidades, é inegável que a tecnologia se apresenta de forma cada vez mais onipresente, mediando, inclusive, as relações sociais. Neste texto discutimos as formas pelas quais os aplicativos de relacionamento (apps) aguçam a já existente economia dos corpos com o emprego da mediação tecnológica. Tal economia consiste em um dispositivo incorporado pelos apps que incorpora uma estrutura mercantil que serve de base para o desenvolvimento das interações. Os dados, obtidos por meio de aproximações e cruzamentos em duas investigações levadas a cabo entre usuários de aplicativos de relacionamento gay de Belo Horizonte e Fortaleza, nos permitem assumir que se institucionalizou um contexto no qual as interações operam com bases econômicas, portanto ratificando e, em alguns casos, rompendo noções como escassez, preço, oferta, demanda etc. A condição de não-materialidade acelera as interações, fazendo do uso de scripts definidos pelos algoritmos um elemento de previsibilidade e de negociação entre os usuários, que precisam ser claros e diretos para obterem o que desejam. As principais conclusões sugerem que os aplicativos de relacionamento gay medeiam, de forma mais acelerada, usuários que se resignam em assumir uma perspectiva de cálculo nas buscas para manter alguma forma de interação com aqueles que eventualmente desejam, processo este que atende a uma dinâmica de mercado.