Dieta cetogênica: como o uso de uma dieta pode interferir em mecanismos neuropatológicos

Abstract

<div>A dieta cetogênica tem sido usada de forma ampla e com sucesso para o tratamento de crianças com epilepsia de difícil controle desde a década de 1920. Mas foi somente há uma década que a dieta cetogênica deixou de ser vista como um tratamento alternativo ou de última escolha para estes pacientes e seu uso tem sido considerado em todo o mundo. O objetivo deste trabalho foi revisar o conhecimento disponível acerca da dieta cetogênica: mecanismo de ação, eficácia, tolerabilidade, efeitos adversos. Muitas crianças não respondem satisfatoriamente à terapia farmacológica convencional, mas sim à dieta cetogênica, uma dieta rica em gordura e pobre em carboidrato. A dieta cetogênica leva a um aumento do nível dos corpos cetônicos no sangue e recentes estudos mostram que os corpos cetônicos e seus componentes tem efeito neuroprotetor para doenças neurológicas agudas e crônicas. Então, a dieta cetogênica pode ser útil no tratamento de uma variedade de desordens neurológicas. A introdução da dieta cetogênica requer uma abordagem multidisciplinar. É usada no tratamento clínico da epilepsia, por provocar uma diminuição da excitabilidade neuronal. Recentes estudos sugerem que a dieta cetogênica possui ação anticonvulsivante e antiepiletogênica. E, além de uma diminuição do número de crises, efeitos cognitivos positivos também têm sido descritos. Os mecanismos de ação não são completamente compreendidos, mas ambos os efeitos, anticonvulsivante e antiepiletogênico, são propostos. Aproximadamente 20 a 30% dos pacientes epilépticos não respondem adequadamente ao tratamento medicamentoso. Nesta população, o tratamento com a dieta cetogênica tem sido considerado como um importante recurso terapêutico, eficaz e seguro. Muitos estudos observacionais e de revisão atestam os efeitos benéficos da dieta cetogênica.</div>

Utilização da dieta cetogênica como estratégia para o manejo de pacientes com epilepsia refratária: uma revisão da literatura

“…No entanto, com o passar dos anos, os novos e eficientes fármacos desenvolvidos, assim como novas formas de tratamento como, tratamentos cirúrgicos, fizeram com que a DC fosse esquecida. Em meados da década de 90, a DC voltou a ser utilizada e indicada para pacientes com epilepsia refratária (ER), principalmente, em crianças e adolescentes (PEREIRA et al, 2009).…”

“…A DC deve ser prescrita de forma individual, precisamente calculada e balanceada para a altura e peso ideal da criança e adolescente, sendo que esta dieta consiste em uma alimentação rica em lipídios, moderada em proteínas e pobre em carboidratos (PEREIRA et al, 2009). No início do tratamento, recomenda-se que o paciente seja internado para a retirada de alimentos sólidos e líquidos por um período mínimo de 36 horas ou até a detecção de aumento de corpos cetônicos no organismo.…”

“…Os corpos cetônicos produzidos atravessam a barreira hematoencefálica, sendo utilizados como substrato para o ciclo de Krebs e cadeia respiratória no metabolismo energético cerebral. Os ácidos graxos ao se oxidarem produzem grande quantidade adenosina trifosfato, elevando as reservas energéticas cerebrais, alterando a bioquímica dos neurônios, promovendo inibição da excitabilidade neural exacerbada e, desta forma, induzindo um efeito neuroprotetor (PEREIRA et al, 2009;PREZIOSO et al, 2018).…”

Estudo do metabolismo energético mitocondrial e sua relação com as crises epiléticas em Wistar audiogenic rats (WAR)

“…A composição da dieta interfere diretamente no metabolismo energético sendo uma forma viável para reduzir a frequência e/ou intensidade das crises. Por exemplo, a dieta cetogênica tem sido utilizada como terapia alternativa para pacientes com epilepsia com crises refratárias 3 desde 1920 (PEREIRA et al, 2010). Esse efeito da dieta cetogênica indica que entender o metabolismo energético é fundamental para entender os processos biológicos relacionados à epilepsia.…”

“…A epilepsia é uma condição neurológica com prevalência de 1-3% da população mundial (FISHER et al, 2005(FISHER et al, , 2017PEREIRA et al, 2010). Uma das formas de classificar a epilepsia é de acordo com o local cerebral de origem da crise epilética (YACUBIAN, 2002;FISHER et al, 2017): 1as decorrentes de uma região cerebral, classificadas como "crises parciais", subdividida em dois subgrupos: simples (quando não há perda de consciência) e complexas (quando há perda de consciência, mesmo que instantâneas); 2as que possuem origem em várias regiões do cérebro em ambos os hemisférios, classificadas como "crises generalizadas", também subdividida em dois subgrupos: convulsivas (quando durante a crise epilética há convulsão) e não convulsivas (quando durante a crise epilética não há convulsão); 3 -aquelas que não se encaixam nas classificações anteriores denominadas "não classificadas".…”