Desenvolvimento de conceitos: o paradigma das descobertas

Abstract

ResumoKeil investigou se a descoberta de essências internas ou princípios causais subjacentes alterariam as categorizações de crianças sobre conceitos de espécies naturais e artefatos. Esse trabalho replica parte do experimento de Keil (1989), buscando validar seus resultados em nosso meio. Participaram 30 crianças, subdivididas em três grupos de 617, 8/9 e 10/11 anos. Foram narradas a cada criança quatro estórias elaboradas por Keil, previamente traduzidas, duas referentes a espécies naturais e duas a artefatos. Eram relatadas situações em que cientistas "descobriam" que, debaixo dos aspectos superficiais de uma coisa, escondiam-se propriedades definidoras de uma outra coisa. Ao final de cada estória, o experimentador perguntava à criança: "Você acha que são X ou Y?", em que X referia-se à aparência do objeto e Y aos atributos definidores. No tocante a artefatos, os sujeitos não se influenciaram pelos aspectos superficiais, avaliando corretamente a identidade dos artefatos. Todavia, em relação às espécies naturais, somente com o aumento da idade os atributos definidores passaram a ser considerados. Tais achados confirmam os de Keil. Palavras-chave: formação de conceitos; desenvolvimento conceitual; visão teórica. DEVELOPMENT OF CONCEPTS: TRE DISCOVERY P ARADIGM AbstractKeil aimed at investigating whether the discovery of internal essences, or underlying causal principies, would affeet the way children categorize concepts of natural species and artifacts. The present paper replicates part of Keil' s (1989) experiment. The purpose was to ascertain whether the results were applicable to the Brazilian culture. Thirty children were assigned to three groups of 617, 8/9, and 10/11 years of age. Each was told four stories elaborated by Keil, previously translated, two of them were about natural species and the other two were about artifacts. They depicted situations in which scientists "discovered" that the properties that defined something were hidden under the surface aspects of something else. At the end of each one, the experimenter asked the child whether it was a case of X (i.e., the appearance of an objeet), or Y (i.e., the defining attributes of the object). With respect to artifacts, subjects were not misled by surface aspects, but rather were able to correctly assess the identity of the artifacts. However, with regard to natural species, the defining attributes were effective only for the older children. These findings give support to Keil's ones. Key words: concept formation; conceptual development; theory view.Em trabalho anterior, Lomônaco et alii (1996) fazem uma apresentação das principais teorias psicológicas que, ao longo dos últimos 80 anos, tem procurado explicar o processo de formação de conceitos, quais sejam: as visões clássica, prototípica, dos exemplares e teórica. Assim sendo, no presente estudo vamos considerar muito sucintamente as três primeiras visões e concentrarmo-nos na última delas, uma vez que a pesquisa aqui relatada tem nesta visão seus fundamentos teóricos.

Tecnologias digitais móveis e metáforas: campos que se encontram em conceitos geométricos

“…7 É possível acrescentar uma quarta teoria: a visão dos exemplares, mas, por concordarmos com alguns autores (CAZEIRO, 2013;MEDIN, 1989) que esta concepção surgiu como uma variação da visão dos protótipos, limitar-nos-emos a dar apenas esta breve descrição. Para a visão dos exemplares, os conceitos se constituem a partir de exemplos específicos da categoria, e não por uma lista de atributos, conforme ocorre nas visões clássica e dos protótipos (CAZEIRO, 2013;LOMÔNACO et al, 2000;MEDIN, 1989). Dessa maneira, os conceitos são representados por alguns casos particulares.…”

“…Dessa maneira, os conceitos são representados por alguns casos particulares. Vejamos um exemplo apresentado em Lomônaco et al (2000), que pode ajudar a esclarecer melhor a ideia central da concepção em questão. Imagine a situação de um professor experiente que durante anos de prática docente tenha se deparado com vários tipos de alunos (alguns aplicados, outros mais esforçados e alunos desinteressados).…”

“…A visão teórica surge como uma contestação de que conceitos se estabelecem como um agregado de propriedades, ideia compartilhada pela visão clássica de categorização e pela visão dos protótipos naturais . Para a visão teórica, um conceito não é constituído apenas por uma lista de atributos, mas é composto por uma relação existente entre conceitos, e o agregado dessas relações estabelece, entre elas, redes que formam teorias (ALMEIDA;LOMÔNACO, 2018;CAZEIRO, 2013;LOMÔNACO et al, 2000;MACEDO, 2002;MEDIN, 1989;STERNBERG, 2008 Para o autor, os termos "cabelos brancos" e "cabelos grisalhos" estão conectados por meio de uma teoria, a do envelhecimento, porém não existe nenhuma teoria que conecte os termos "nuvens brancas" e "nuvens cinzentas" (MEDIN, 1989). Sayeg (1999) Para este artigo propomos reflexões a partir de duas tarefas lumiares que antecederam a investigação proposta, para a construção do conceito de retas concorrentes e a investigação de relações entre ângulos opostos pelo vértice e ângulos adjacentes e retas paralelas cortadas por uma transversal e suas propriedades 14 .…”

“…Segundo eles, "conversa paralela" é uma expressão comum usada pelos professores a fim de chamar a atenção para a discussão relacionada ao tema de estudo da aula, enquanto o termo recuperação paralela é atribuído ao processo avaliativo adotado pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro em que cada aluno tem direito à recuperação de cada instrumento avaliativo utilizado pelo professor ao longo do bimestre. O processo que apresentamos para a construção de um conceito é marcante na visão teórica, como destacam os estudiosos da área (ALMEIDA;LOMÔNACO, 2018;CAZEIRO, 2013;LOMÔNACO et al, 2000;MACEDO, 2002;MEDIN, 1989;STERNBERG, 2008). Sob a ótica da visão teórica, os estudantes formam um conceito por meio de suas redes de teorias, de maneira singular, e a forma como cada sujeito constrói suas teorias, ou conjunto de explicações, acerca de uma entidade ou categoria depende de suas interações com o objeto, o que pode ser proveniente do uso de metáforas como maneira de conceituar.…”

Desenvolvimento de conceitos em cegos congênitos : caminhos de aquisição do conhecimento

“…Os casos de cegueira anterior a essa idade são chamados de cegueira congênita. A delimitação da idade de 5 anos para o diagnóstico de cegueira adquirida é fruto de pesquisas que não identificaram memória visual em cegos que perderam a visão antes dessa idade (Amiralian, 1997a Lomônaco (1996Lomônaco ( , 1997Lomônaco ( , 2000Lomônaco ( , 2001 analisa quatro destas teorias, ou visões psicológicas, como são comumente chamadas: visão clássica, prototípica, dos exemplares e teórica. Dentre essas, a visão teórica é a abordagem que embasa este trabalho.…”