Débora Muramoto é formada em Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, pós-graduada em Língua Inglesa pela PUC-Rio, e atualmente é mestranda em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio. E-mail: muramoto.debora@gmai.com
ResumoPartindo do terreno das ocupações estaduais de 2016 em Niterói-RJ, este artigo objetiva analisar, sob a lente da Sociolinguística Interacional, da Análise da Narrativa e dos estudos discursivos sobre gênero e poder, como narrativas de estudantes-ocupantes constroem suas identidades e tensionam o princípio da horizontalidade desses movimentos. Os dados apontam para a construção do empoderamento feminino no lugar da mãe, de um lado, e para a narrativa heroica de protagonismo masculino, de outro.
Palavras-chaveEstudante. Gênero. Poder. Ocupação. Juventude.
1) ApresentaçãoAs ocupações de escolas públicas estaduais brasileiras protagonizaram polêmicas e dividiram opiniões. Esses movimentos, ocorridos entre 2016 e 2017, nasceram a partir de diferentes perspectivas e contextos, mas se entrelaçam nas semelhanças de sua proposta e historicidade, sinalizando para a plasticidade do ato de ocupar. Eles apontam para o potencial transformador e agentivo da ação coletiva que transforma e ressignifica as instituições de ensino, apresentando a proposta de ser e estar equanimemente.Nesse contexto, do qual fiz parte como professora voluntária por um mês, analiso aqui, sob a lente micro da Sociolinguística Interacional, uma entrevista de pesquisa que fiz com adolescentes ocupantes de sua escola estadual em 2016, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. No decorrer da pesquisa, pude perceber que o princípio da horizontalidade, característica marcante dos movimentos sociais contemporâneos, ia de encontro com assimetrias de poder entre homens e mulheres evidenciadas nas interações. 1 Dessa maneira, surge uma problemática: como os ocupantes constroem narrativas que sustentam significados generificados sobre si e a horizontalidade? 1 A proposta de relações horizontais é a de eliminação de lideranças e hierarquias, aproximando-se da noção de democracia direta. Esta foi uma característica valorizada pelos ocupantes ao longo de todo o movimento, e que embasa a capacidade de autogestão de uma ocupação. Em seu trabalho sobre a construção discursiva da horizontalidade no espaço público e em movimentos sociais urbanos, a 10.17771/PUCRio.escrita.34315 10.17771/PUCRio.escrita.34315Na busca desses entendimentos, este estudo desenvolveu-se observando, na dinâmica da troca de turnos, a forma como os indivíduos defendem e ocupam seus espaços na interação, criando significados na construção conjunta de narrativas breves (GEORGAKOPOULOU, 2006;BAMBERG;GEORGAKOPOULOU, 2008) que constituem suas identidades. Esta empreitada está intimamente ligada às experiências compartilhadas entre os participantes bem como ao contexto em que me contam suas histórias durante o período da ocupação. Isto posto, o presente artigo visa analisar as narrativas breves construídas na situação de entrevista de...