“Deixa O Menino Rodar”: O Carisma Reteté Em Uma Igreja Pentecostal Da Periferia

Abstract

No artigo, são apresentados dados etnográficos da igreja Herdeiros do Sião, pequena igreja pentecostal localizada numa favela de Vitória, Espírito Santo. Em observação participante empreendida de janeiro a abril de 2014 e retomada entre janeiro e fevereiro de 2018, apresento pontos de reflexão sobre a singularidade da expressão religiosa representada pela denominação, que pode ser associada a uma vertente pentecostal conhecida, em expressão de grupo, como reteté de Jeová. O termo se refere aos rituais de culto ao espírito santo marcados pelo caráter extático, sensorial e pela intensidade das performances corporais, que lembram uma dança giratória. Especificamente, no artigo, a análise se concentra na reflexão sobre como a Herdeiros do Sião se situa e atua no contexto da favela onde está inserida. Em sentido mais amplo, partindo do conceito sobre afinidade eletiva (WEBER, 2004) e posição fronteiriça (COLEMAN, 2016), argumento que os rituais vivenciados na igreja, bem como sua forma de organização, fornecem pistas sobre a associação entre a ritualística reteté e o ethos periférico. Nesta esteira, também são discutidas as disputas por legitimidade da religiosidade reteté, muitas vezes invisibilizadas ou desconsideradas dentro do campo evangélico brasileiro

Secularization, secularism and laicidade in Brazil: Rethinking global theoretical assumptions

“…What is evident in this literature is that it is not enough to say that religion has not been privatized or how it has been publicized; rather it is necessary to address the production of the political‐moral sensibilities of the Pentecostal subject when living with others. These works have focused on understanding aesthetics, sensitivities, temporalities, moralities and family relationships, often in contexts of violence (e.g., Birman, 2019; Machado, 2014, 2020; Mauricio Junior, 2022; Pereira, 2019). In the Brazilian case, it is clear how the bellicose dynamic of defending their morality and beliefs, described in these works, is intertwined with aesthetics and playfulness, especially through the gospel music industry or in the Carnaval (Oosterban, 2017, 2021).…”

Tomar a favela para Jesus: ethos heróico, juventudes e pentecostalismos em territórios de exceção ordinária

“…Por mais que exista uma grande flexibilidade no estabelecimento da relação hierárquica entre as redes (...) e pouca fiscalização e intervenção da hierarquia no "domínio" do pastor presidente (pastor da igreja mãe com cargo vitalício), estas características de uma organização institucional "flexível" são somadas para compor "comunidades morais" localizadas: agregados com fortes redes de solidariedade interna e noção clara das ações limite, aquelas consentidas e não consentidas pelo coletivo (Mafra, 1999, p. 36) Mafra também analisa a ritualística das comunidades morais, destacando as cerimônias de "maravilhamento e êxtase pelo espírito" (Mafra, 1999, p. 35). Com a observação participante, percebemos sobre tais ritos extáticos a expressividade corporal da dança giratória performada por integrantes nos momentos de avivamento, a glossolalia e o profetismo (Pereira, 2019). Todavia, além da análise das comunidades morais por seus aspectos hierárquicos e ritualísticos, reiteramos que tais denominações estão imiscuídas aos territórios em que estão inseridas.…”

Xigubos, Pandeiros E Atabaques: Instrumentos Como Meio De Acesso Ao Sobrenatural No Brasil E Em Moçambique

“…Dentro destes coletivos religiosos de Xerém a música pode funcionar como linguagem unificadora, mas também pode gerar conflitos com outros segmentos evangélicos e diversas formas de religiosidades afro-brasileiras. Aqui, nos referimos ao fato de que, nessas igrejas, é comum a execução de músicas que as discriminam abertamente ("pisa na farofa, chuta esse alguidar"), porém, ao mesmo tempo, os(as) próprios(as) fiéis dessas igrejas são acusados(as) de reproduzirem movimentos corporais das religiões que criticam, fazendo com que sejam acusados(as), através do uso de categorias nativas depreciativas, como "macumba pentecostal" ou "reteté" (Guerreiro, 2016;Pereira, 2019).…”

“…Usamos esse termo como desdobramento da ideia de periferia apresentada na introdução. Nota-se que há pesquisas que investigam contextos semelhantes, com foco na música, como as dePereira (2019), Guerreiro (2016) e Albuquerque Junior (2014).22 Pimentel. Informação verbal, 14 de junho de 2017.21 Refiro-me a rituais que usam músicas não programadas anteriormente, fato que, durante a pesquisa, não foi empecilho para pandeiristas.…”