VICTORA, C. G. et al. Quadro epdiemiológico das mortes súbitas na infância em cidades gaúchas (Brasil). Rev. Saúde públ., S. Paulo, 21:490-6, 1987.
RESUMO:Foram investigados os óbitos infantis pós-perinatais ocorridos no período de um ano, em 10 cidades gaúchas, incluindo a região metropolitana de Porto Alegre, por meio de estudo de casos e controles. Setenta e duas mortes súbitas na infância (MSI) foram identificadas através de amplo sistema de monitorização de óbitos e investigadas em pormenores através de entrevistas médicas com os pais da criança e revisão de prontuários ambulatoriais e hospitalares. Os óbitos foram mais comuns em meninos, no primeiro trimestre de vida e durante o inverno. A comparação de cada caso de MSI com duas crianças-controle da mesma vizinhança, através de regressão logística condicional múltipla, identificou os seguintes fatores de risco: baixo nível socioeconômico (medido através da renda familiar e da escolaridade materna), baixo peso ao nascer, presença de outras crianças no domicílio, mães jovens e fumantes e aleitamento misto ou artificial. Nenhuma das 72 MSI foi reconhecida como tal pelos médicos que preencheram os atestados de óbito, sendo as mesmas atribuídas predominantemente a "broncopneumonias".
INTRODUÇÃOÀ medida em que a mortalidade infantil vem sendo reduzida devido a melhorias socioeconômicas, ambientais e na assistência mé-dica, as mortes súbitas na infância (MSI) tendem a assumir papel relativamente mais importante. No Reino Unido, por exemplo, estes óbitos são atualmente responsáveis por metade das mortes infantis pós-neonatais 6 . Esta síndrome foi definida por Beckwith 3 , em 1969 como "a morte súbita e inesperada de uma criança, na qual uma necrópsia detalhada não consegue identificar uma causa adequada para o óbito". Estas crianças incluem aquelas em que: a) não havia nenhuma anormalidade; b) havia anormalidades mínimas, mas sem indicação de um processo patológico especí-fico; ou c) havia evidência de patologia, mas a mesma não parecia ser suficientemente grave para levar à morte 6 .A definição restrita, sugerida por Beckwith 3 , torna praticamente impossível a realização de estudos epidemiológicos sobre a síndrome da MSI em nosso meio, uma vez que é mínima a proporção de crianças falecidas inesperadamente que são submetidas a uma necrópsia detalhada. Para estudar a magnitude e a determinação deste problema em crianças brasileiras, torna-se necessário adotar uma definição clínica, no caso, "mortes inesperadas em crianças assintomáticas, ou que apresentavam sintomas mínimos com menos de 24 horas de duração". Esses óbitos foram enquadrados nos códigos 798.0 (síndrome da morte súbita na infância, ou morte súbita de causa não específica na infância) ou 798.2 (morte que ocorre menos de 24 horas após o início dos sintomas, não explicável de outro modo) da IX revisão da Classificação Internacional de Doenças 8 .