Linguisticamente, os provérbios possuem, a nível semântico-pragmático, uma estrutura relativamente autónoma, podendo até serem considerados, numa determinada ótica, uma espécie de microtextos. Esta sua caraterística levou-nos a utilizá-los para testar os mecanismos de sinestesia nas línguas, concretamente, tentar perceber se os provérbios não ligados diretamente a cores (como “Quem tudo quer, tudo perde”) desencadeiam processos semântico-cognitivos implicando as cores de forma não aleatória.Para tal, a partir de um grupo de 9 provérbios sem referências diretas a cores recolheram-se as respostas a um conjunto de inquéritos feitos em Portugal e no Brasil que evidenciam a sistematicidade de, por um lado, se poder dizer que cada provérbio tem cores específicas e por outro que há diferenças entre essas cores para o Português Europeu (PE) e para o Português Brasileiro (PB).Numa segunda fase, recolhemos dados sobre os mesmos provérbios em Angola (PA, Português de Angola) e Timor (PTi, Português de Timor) com a finalidade de se verificar até que ponto as sinestesias das cores nos provérbios são ou não sistemáticas e as relações entre línguas e culturas que essas diferenças podem evidenciar.